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3ª Aula - Processo redacional do Livro do Deuteron
3ª Aula - Processo redacional do Livro do Deuteron

01 - Sejam bem-vindos e bem-vindas a 3ª Aula do estudo do livro do Deuteronômio, um livro ainda pouco conhecido por nós e pelas nossas comunidades, mas eu garanto, como já disse na nossa primeira aula: o estudo deste livro trará grandes surpresas para a nossa fé e formação cristã. Hoje iremos dar continuidade a história do processo redacional deste livro que levou em torno de 350 anos.  

 

02 - O livro do Deuteronômio, como já foi dito, não tem um único autor, mas vários autores ou grupos sociais com diferentes interesses, situações, locais e momentos históricos. Todo o processo redacional levou mais ou menos 4 séculos. Eis a seguir as etapas pela qual o livro passou até ficar pronto do jeito que está em nossas Bíblias.

 

1º-Período pré-estatal; 2º Reino do Norte – metade do século VIII a.C.; 3º. Reforma de Ezequias/Josias; 4º. Redação exílica; 5º. Redação pós-exílica.

 

Na primeira e segunda etapas temos a redação do núcleo mais antigo do Deuteronômio, contendo leis humanitárias e centralizadoras (Dt 12–26).

 

Na terceira e quarta etapa, marcadas por um período de reformas, o texto foi revisto, acrescentado e reeditado (Dt 4,44–28,68). Por fim, na quinta etapa aconteceu uma revisão e reedição (Dt 4–28) e uma ampliação (Dt 1–4; 29–34).

 

03 – Na aula passada estudamos o primeiro período. Hoje estudaremos as demais etapas.  A experiência do Êxodo dos hebreus, que fugiram do Egito, o maior de todos os opressores, e se instalaram nas montanhas de Canaã, se tornou o evento fundamental da fé do povo de Israel e mantém-se vivo até os dias de hoje. Liderados por Juízes, o grupo se manteve por 200 anos, em um sistema de sociedade tribal ou aldeias comunitárias a partir do uso comunitário da terra, da solidariedade, da autodefesa, sem exército, sem rei, vivendo a partilha dos bens, sem muros, sem a centralização do culto em um único lugar, sem sacerdote e luxo; com tomada de decisões compartilhadas, sem pobres e necessitados entre eles, todos eram pobres ajudando outros pobres. Mas tudo que é bom um dia acaba.

 

04 - Por volta do ano 1000 a.C. houve mudança de regime político em Israel e surgiu um novo sistema político: a monarquia. E agora o que fazer? Mudar ou ficar com o sistema tribal? Se mudar, qual modelo adotar? Se o sistema tribal permanecer, como resolver os problemas internos e externos que as tribos enfrentavam?  O conselho tribal, pressionados pelas tribos mais ricas, e pelos donos dos bois, então decide implantar a Monarquia, que era justamente o regime do qual tinham fugido.

 

05 - Com a monarquia, configurou-se uma sociedade em que uns poucos têm muito mais poder e riqueza do que a maioria da população. A monarquia constituiu um grupo social dominante que controlava o exército e se mantinha explorando o trabalho apropriando-se de grande parte da produção das famílias camponesas, direcionando-a para a rede do comércio internacional. As famílias camponesas, além de serem levadas a entregar parte de sua produção, também entregavam suas filhas e filhos para trabalhar nas obras e guerras decididas pelo rei e seus aliados (1Sm 8,11-17). Surge um pequeno grupo muito rico e poderoso, e aparece na sociedade grande número de pobres, sem-terra e sem casa, sem os meios necessários para uma vida digna (lSm 22,2;)

 

06 - Esse processo começou timidamente com Saul e, consolidou-se com Davi e Salomão (entre 1000 e 930 a.C).  Salomão, ficou conhecido na história como o modelo de rei sábio e ideal que se destacou como o monarca que trouxe mais segurança para o povo contra invasores, mas, nem tudo foi um mar de rosas. Os palácios e as belas construções de Salomão tiveram altos custos aos cofres públicos. Para financiar todas as suas extravagâncias, ele teve que recorrer ao trabalho forçado a cobrar impostos e a exigir coisas cada vez mais difíceis, deixando o povo em situação semelhante àquela em que seus antepassados viveram no Egito. Salomão tornou-se semelhante ao faraó do Egito. Agravaram-se assim as condições dos mais pobres que continuavam clamando a Javé, como no tempo da escravidão. O clamor popular não chegava até o palácio do rei. O rei morava na cidade protegida por muros altos, distante dos campos e das aldeias onde o povo trabalhava e morava. Era preciso abafar o grito que subia da periferia das grandes cidades e do campo. Compare  Dt 17,16s com 1Rs 10,26; 11,1-6; 10.14s

 

07 – O preço alto pago pela política de expansão territorial de Salomão veio alguns anos depois de sua morte, com a divisão do reino em norte (Israel) e sul (Judá). Por volta do século VIII, durante o reinado de Jeroboão II, o Reino do Norte teve um desenvolvimento sem precedentes. Nunca houve tanta fartura, prosperidade e paz durante os 20 anos que Jeroboão II ficou no poder com popularidade alta. Produtos eram exportados, territórios conquistados, o comércio internacional intensificado.

 

08 – O povo era incentivado a produzir mais e mais, pois o momento era favorável. O incentivo à produção e as boas condições da economia foi gerando um superávit, um excedente de riquezas que poderia deixar realmente a nação tranquila, porém, toda riqueza convergia para a capital, Samaria. Lá, havia luxuosas mansões, requintados palácios e intermináveis festas daqueles que gozavam da boa vida conforme nos relata o profeta Amós: “Deitam-se em cama de marfim. Esparramam-se em cima de sofás, comendo cordeiros do rebanho e novilhos cevados em estábulos. Bebem canecas de vinho, usam os mais caros perfumes” (Am 6.4.6ª).

 

09 - Para a manutenção desse estado de coisas o rei Jeroboão II e os outros reis depois dele contava com aliados fundamentais: os sacerdotes que os apoiavam e o ajudavam a manipular o nome de Javé. Os santuários passaram a ser templos do rei e as festas centralizadas nesses santuários, principalmente o de Betel, com o intuito de arrecadar mais tributos. Javé foi definido como o deus oficial do Estado e consolidou-se como o deus protetor da casa real e das instituições que sustentavam a monarquia. Desse modo, Javé e Baal eram a mesma coisa. Até culto de prostituição sagrada havia.

 

10 -Nesses cultos, Baal representado por um sacerdote, se unia a uma deusa a sua esposa, representada por uma sacerdotisa e prostituta sagrada afirmando que esse ritual gera vida para a terra e seus habitantes. Os fiéis eram convidados a se unirem sexualmente com as prostitutas sagradas participando assim do poder divino de baal garantindo a fecundidade. Os sacerdotes do rei introduziram esses cultos nos santuários do rei e o povo ia prestar esse tipo de culto e pedir ao Javé oficial, o deus da corte, bênçãos de fertilidade para a terra, para os animais e para as mulheres. Em troca desses favores o povo oferecia produtos do seu trabalho e até seus filhos e filhas.

 

11 - Todo esse progresso era uma faca de dois gumes. Se de um lado havia fartura, do outro, havia roubo, corrupção. Seria ingênuo pensar que toda essa riqueza tenha sido repassada de forma igualitária para o povo. O progresso só favoreceu a elite da Samaria: famílias ligadas à corte, grandes proprietários de terras etc. A maioria da população camponesa sofria com injustiça, violência, explorada pela elite. O movimento profético, percebeu e denunciou as verdadeiras causas desta aparente prosperidade: a exploração dos camponeses, a injustiça e a alienação religiosa e Amós chegou a dizer em bom tom: “Porque vendem o justo por dinheiro e o indigente por um par de sandálias. Pisoteiam os fracos no chão e desviam o caminho dos pobres” (Am 2,6-7ª).

 

12 - O profeta Amós analisa todo esse progresso com olhos críticos e percebe que a prosperidade é acompanhada de injustiças e contrastes sociais, corrupção e fraude no comércio; e ainda mais, que a religião era manipulada e funcionava como um tranquilizante para o grupo dominante. Para Amós, essa situação demonstrava que a aliança com Deus estava cada dia mais comprometida e lentamente ia perdendo qualquer influência na vida diária. A classe dirigente prestava culto a Deus, mas os pobres continuavam sendo oprimidos. O que Deus quer, o que realmente lhe agrada, é a prática da Justiça e do direito, condição básica para a salvação de qualquer um.

 

Logo depois de Amós surge Oséias, denunciando com o mesmo vigor os pecados de Israel, agora identificados como “a prostituição” do povo, que abandonou o projeto do Senhor para servir ao projeto de baal.

 

Não só Amós e Oséias, mas Isaías e Miquéias trazem à luz algumas tradições do Êxodo para manter viva a experiência do período tribal e passaram a apresentar Javé como uma divindade sensível às violências e às injustiças, que vê e escuta as pessoas exploradas e levanta-se para libertá-las (Ex 3,7-8ª)

 

13 - O grupo apresentou a monarquia como um fracasso e foram firmes nas denúncias contra os reis e às suas bases de sustentação e apresentaram dados fundamentais da sua teologia: a aliança com Deus e a prática do sistema igualitário retomando e propondo as antigas leis do período pré-estatal de Israel (1250-1000 a.C) em defesa dos pobres.

 

14 - E assim, começou a ser gestado, ainda que em forma oral. O núcleo do Dt 12-26, contendo normas que ressaltam a experiência do sagrado na promoção da vida, da defesa do pobre, da viúva, do estrangeiro, dos órfãos, fruto da espiritualidade libertadora do êxodo e do profetismo.

 

15- Após a morte de Jeroboão II, por volta do ano 743 a.C, a política internacional mudou e a Assíria despontou no horizonte como forte potência, invadindo países, impondo pesados impostos, estimulando guerras para enfraquecer as pequenas nações e arrancar delas contribuições, apoiando no poder quem lhe pagasse mais tributos. Diante da pressão assíria, o poder central de Israel/Norte abalado e em crise negou pagar tributos.

 

16 - O rei da Assíria cercou a capital Samaria e a conquista. Foi o golpe final ao reino do Norte que nunca mais se ergueu novamente como nação. 40 % da população foi deportada e misturada com outros povos vencidos, simultaneamente ao fato de que o território do ex-reino do Norte foi ocupado por gente deportada desses povos (2Rs 17,24).  Essa foi a origem da religião dos samaritanos, uma espécie de mistura de elementos de religiões baalistas com o javismo, que já não era tão puro em Israel. Agora ficou pior com essa mistura de pagãos na região. Isso fez com que muitas pessoas fugissem para Judá/Sul, onde reinava Ezequias, levando consigo o núcleo central do Deuteronômio 12-26. 

 

17 – O rei Ezequias (Is 7,14; 9,5-6; 2Rs 18,3s) advertido pelo que aconteceu com o vizinho, reino do Norte, procurou melhorar as coisas no Sul e promoveu uma reforma religiosa de combate aos cultos cananeus chamada “reforma de Ezequias, ou deuteronomista”. O livro das Crônicas descreve os detalhes dessa reforma (2Cr 29,3-32-33). Ezequias foi obrigado a decretar leis sociais para amenizar a grave crise de explosão demográfica, causada pela chegada dos refugiados no Norte, envolvendo estrangeiros, órfãos e viúvas e várias obras públicas como, o fortalecimento das muralhas da cidade de Jerusalém e a construção de um canal subterrâneo para levar água para dentro da cidade (2Rs 20,20) etc. Tudo isso testemunhava a necessidade do Estado de centralizar a riqueza e o poder.

 

Deu-se também um movimento que visava unir as tribos do Norte com as do Sul, sob o comando da dinastia de Davi instalada em Judá. Para aumentar a riqueza e o controle da nação, o rei Ezequias fortaleceu o poder de Javé como o Deus nacional, proibindo o culto a qualquer outra divindade que não fosse Javé e fez de Jerusalém o lugar central da fé e o único local onde se podia e oferecer sacrifício, os israelitas daí em diante deveriam adorar exclusivamente a Javé. Perseguiu as outras divindades abolindo as imagens e destruiu santuários do interior e proibiu qualquer culto fora de Jerusalém.

 

18 - Para promover e legitimar as reformas, os escribas do rei acrescentaram 4,44-11,32 e as adaptaram nas tradições que os refugiados trouxeram do Norte. Nesses capítulos estão os dados fundamentais da teologia de Ezequias: há um só Deus, que deve ser adorado por todo o povo num único local de culto (Jerusalém); esse Deus amou e elegeu Israel e fez com ele uma aliança eterna; e o povo deve ser um povo único, unido, portanto, não têm qualquer sentido as divisões históricas que levaram o povo de Deus à divisão política e religiosa, após a morte do rei Salomão em Norte e Sul.

 

19 - Aconteceu assim a primeira edição do livro do Deuteronômio (Dt 4,44-26). Esse documento deveria ser guardado no templo e lido periodicamente em público, mas por trás disso o objetivo era fortalecer a autoridade do rei diante do povo. Mais tarde, com a invasão de Senaqueribe (701-a.C) rei da Assíria, a reforma foi bruscamente interrompida, o documento foi “escondido” no Templo e restou a Judá a humilhação e a submissão.

 

20 - Cem anos após a morte de Ezequias, por volta do ano 620 a.C., Josias sobe ao trono de Judá.  O núcleo central do Deuteronômio, com os acrescimentos que serviu de base para a reforma de Ezequias, foi achado no Templo e com o declínio do poder Assírio na região e o enfraquecimento do Egito, criando um vácuo de poder na Palestina, o rei Josias retomou e executou a reforma de Ezequias, com a política nacionalista de centralização do culto em Jerusalém e fortaleceu Javé como a divindade oficial do Estado. Para orientar e legitimar a reforma, os deuteronomista revisaram, ampliaram, e reeditaram Dt 12-26, transformando-o em Dt 4,44-(26)28,68, chamando-o de Livro da Aliança ou Livro da Lei” (2Rs 23,2) e passa a ser usado pelo rei Josias (2Rs 22,8-20) para integrar as reformas dentro de seu projeto de estender o domínio de Judá sobre Israel, no sonho de ter as doze tribos unidas num só povo, cultuando somente a Javé, no único santuário de Jerusalém, comandadas por um rei davídico. Para envolver o povo e legitimar esse projeto de dominação, a corte de Josias reelaborará toda a história de Israel, projetando suas próprias perspectivas, como se fosse desejo de Javé nos inícios da história de Israel (Dt, Js, Jz), e do passado glorioso vivido no tempo de Davi e Salomão (1 e 2Sm, 1 e 2Rs). Para salientar a fidelidade à lei com o culto exclusivo a Javé (5,6-10).

 

21 – O objetivo da reforma era este: levar o povo a observar melhor a Lei de Deus, mas ela se tornou muito ambígua, pois beneficiou a uns e prejudicou a outros.  Os que mais se beneficiaram foram principalmente a elite de Jerusalém, os da casa real, os comerciantes, bem como a classe sacerdotal do templo e seus funcionários, pois tudo foi centralizado em Jerusalém. A vida do povo foi profundamente violentada, pois perderam o seu lugar de culto, seus santuários foram destruídos, seus Deuses domésticos banidos, pois foi proibido qualquer culto fora de Jerusalém e tiveram que arcaram com um sistema tributário mais pesado, aumento das despesas com as peregrinações a Jerusalém principalmente para celebrar a Páscoa, seus sacerdotes assassinados etc.

 

22 – Depois da Assíria, a Babilônia começou a se destacar no cenário internacional. Com a morte de Josias, Judá foi engolido pelos invasores, Egito e Babilônia. Foi o fim da reforma e o início dos desastres nacionais. Em 597 a.C., Nabucodonossor, sitiou Jerusalém e a tomou. A partir de então o breve exercício imperialista da corte de Jerusalém foi brutalmente interrompido e a Babilônia, ocupou o espaço do império assírio, provocando a destruição de Judá, que em 587 a.C., teve a capital Jerusalém definidamente invadida, saqueada, destruída e o povo exilado. Nabucodonosor levou toda a riqueza que encontrou na cidade e como aconteceu com o reino do Norte, também para o Sul a aventura monárquica terminou na desilusão, na destruição, na deportação e na morte. Perderam tudo o que pensavam que poderia dar-lhes segurança: a terra, a cidade, o rei e o Templo.

 

23 – No exílio, os deportados se perguntavam: Como superar essa crise, manter a fé em Javé, e resistir aos atrativos do império babilônico? Como manter a identidade, e manter viva a esperança de voltar um dia para Judá e reconstruir Jerusalém? Quem era o culpado? Javé, o Deus nacional de Judá, abandonará o seu povo? Ou foi derrotado por Marduque, o Deus dos babilônios, de acordo com a teologia da época? As respostas estão em Lamentações e Miquéias 4 e 5, textos escritos por escribas e levitas, outrora a serviço do templo de Jerusalém. 

                                                                                                 

24 - Nessa situação de destruição e deportação, o povo perderá toda a esperança. Estavam, sem rei, sem templo e em uma terra estrangeira. Os escribas tentavam animá-lo e orientá-lo para a vida e a felicidade: arrependimento, conversão, não servir outros deuses, obediência à lei e retomo a Javé o único Deus que se deve adorar. Diante desta situação os escribas revisaram e ampliaram Dt 4,44-28,68 para confirmar que o desastre nacional do exílio fora causado porque o povo romperá a aliança, sobretudo os governantes, desencadeando a cólera de Javé, que os abandonou (4,21-31; 27-28,47-68; 29,20.24. 31,16-17.20). O povo devia arrepender-se, converter-se e voltar ao caminho de Javé (Dt 30,15-20).

 

25 – Em 538 a.C, o império Persa conquista Babilônia e o povo exilado começa a voltar para Jerusalém. Ciro, o rei da Persa, apoiou o retorno dos exilados e patrocinou a reconstrução das muralhas da cidade e do Templo, mas garantindo a submissão política.  Mais tarde com interesses expansionistas e de olho na região para ampliar seus territórios, Esdras e Neemias são enviados para organizar e fortalecer a Judéia e conter o avanço de egípcios e gregos na região.  A cidade de Jerusalém, com o seu templo, consolidou-se como o centro do poder sociopolítico. O sistema do tempo, com a lei do puro e do impuro foi reforçado. A pessoa impura ficava impedida de participar da vida comunitária e do culto no templo, considerado a morada exclusiva de Javé, o único Deus.  A única forma de voltar a participar da sociedade e do templo era fazer o sacrifício de purificação, que incluía a entrega de ofertas (Lv 11-16). Dessa forma, o templo e a lei tornaram-se os principais mecanismos de arrecadação de tributos para a manutenção da teocracia de Jerusalém, que repassava uma parte da arrecadação ao Império Persa. Consolidava-se a sociedade teocrata em Jerusalém, com o controle da Pérsia (Esd 7,26). A Teocracia é uma forma de governo em que Deus é reconhecido como o supremo governante civil e as leis são interpretadas pelas autoridades eclesiásticas.

 

26- Neste contexto o texto de Dt 1-34, foi revisto e ampliado pelos sacerdotes onde Javé aparece como o único Deus e o criador de tudo e não há outro como ele (4,35-36). Este é o início do monoteísmo, qualquer representação cultiva de Javé (estátuas de culto, ídolos, imagens) deve ser rejeitada (4,9-20). Israel é o povo eleito e fica proibido fazer aliança com outras nações e casamentos mistos (12,2-7). A circuncisão, junto ao sábado e restrições alimentares, são sinal distintivo de segregação. A Lei e teologia da retribuição: na realidade, a observância da lei do puro e do impuro foi justificada e fortalecida pela teologia da retribuição, que afirmava que Deus recompensava a pessoa justa (que observa a lei do puro e do impuro) com riqueza, saúde, descendência e vida longa (Lv 26). Pobreza, doença e esterilidade eram sinais da maldição de Deus (30,15-18). Cada um será julgado e punido por Deus segundo seus “pecados” (24,16; 7,9-10; cf. Ez 18,1-32). A não observância das leis, que justificava até a condenação à morte, em nome de Deus, fortalecia o templo, seus rituais, a teologia da retribuição e a salvação individual.

 

Moisés aparece como figura mítica e patrono da lei (Lv 12,1): os teocratas narram o surgimento de Israel, o povo eleito, com a figura mítica e épica de Moisés, consagrado como patrono da lei. Por isso, na redação final do Dt, a figura central do livro, em termos literários, é Moisés, como único mediador entre Javé e o povo; Dt contém os discursos de Moisés e suas últimas palavras, exortando o povo à fidelidade a Javé, e finalmente a sua morte (34).

 

27 - Assim, o conjunto do livro do Deuteronômio pretendia ser um apelo à conversão ao Deus oficial, único e poderoso, à sua lei do puro e do impuro, e à unidade do povo eleito, Israel, na sociedade teocrática de Neemias e Esdras.

 

Redação Exílica e Pós Exílica: Revisão de Deuteronômio 4,44-48 e ampliação:

Dt 31,1-34,12: Serve tanto como conclusão do Pentateuco, como de ponte para o livro de Josué, livro que será estudado 2022

 

AUTOAVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

1º O que mais te chamou a atenção no estudo de hoje?

2º Cite algumas das características do Sistema Tribal?

3º Qual grupo pediu a Samuel mudança de regime político?

4º A religião pode ser um tranquilizante usado pelos grupos dominantes da nossa sociedade?

5º Qual a sua opinião sobre este pensamento: “O nosso lugar de vivência e as nossas opções sociais condicionam a leitura que fazemos dos textos bíblicos, bem como, a imagem que temos de Deus que sustenta a nossa vida e que transmitimos para os outros”.

 

Assista os seguintes filmes

1º - Sangue derramado gera sangue derramado: Reino do Norte (Israel) – Século VIII a.C Mariel e Jero são irmãos e vivem em Samaria desde que nasceram. Através de uma carta que escrevem para o primo Sam, ficamos sabendo vários detalhes da situação social, política e religiosa daquela época, muito semelhantes à situação do povo em nossos dias.

https://www.youtube.com/watch?v=XSM41c1IDFg&list=PLL4RwU4aY2wprl39F67ZWb_na2nnK53cL&index=7&t=1958s

 

2º - Em nome de Deus: No século VII a.C o Império Assírio passa por uma profunda crise. O Egito também está vivendo momentos difíceis e a Babilônia ainda não é uma grande potência. Aproveitando esse contexto político internacional, o rei de Judá, o conhecido Rei Josias, aproveita para fazer uma grande reforma sócio-política e religiosa, centralizando a vida da nação em Jerusalém e no Templo.

https://www.youtube.com/watch?v=oOPCjy2RzDk&list=RDCMUCp883u9kbNNZnR9-6yTf_IQ&start_radio=1&t=33