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4ª Aula:Discernir os Sinais do verdadeiro Espirito
4ª Aula:Discernir os Sinais do verdadeiro Espirito

4ª aULA

1Jo 4,1-6


Quem reconhece que Jesus veio na carne, esse vem da parte de Deus. E todo aquele que não reconhece a Jesus, não vem de Deus. Esse é o espírito do Anticristo (1Jo 4,2b-3)

 

1- Acolhida. A primeira carta de João nos ajuda a ver os conflitos que havia nas primeiras comunidades cristãs. Seguir o projeto de Jesus Cristo exige comprometer-se com a justiça e a solidariedade, em contraposição às re­alidades que negam a vida dhttps://img.comunidades.net/lei/leituraorante/_ndice.jpg123.jpgo ser humano. Como filhas e filhos de Deus, queremos dar continuidade à implantação do seu Reino entre nós.

 

Na aula de hoje veremos como discernir o que é de Deus e o que não é.  Nem sempre é fácil, é preciso lucidez e sabedoria para discernir a presença do Espírito de Deus em nossa vida. Que o Espírito nos ilumine e nos dê clareza para reconhecermos o que é de Deus.

 

Motivando a aula: Numa pequena aldeia de Marrocos, um homem contemplava o único poço de toda a região. Um garoto aproximou-se:

– O que tem lá dentro? – quis saber.– Deus.

– Deus está escondido dentre desse poço?

– Está.

– Quero ver – disse o garoto, desconfiado.

O velho pegou-o no colo e ajudou-o a debruçar-se na borda do poço. Refletido na água, o menino pôde ver o seu próprio rosto.

– Mas esse sou eu – gritou.

– Isso mesmo – disse o homem, tornando a colocar delicadamente o menino no chão.

– Agora você sabe onde Deus está escondido.

 

Deus se faz pessoa em Jesus e a partir dele somos chamadas/os a viver o amor ao próximo, que é a condição para Deus continuar se encarnando em nosso meio. Como acolhemos a presença de Deus em nós e nas pessoas com as quais convivemos?

 

Situando o texto: Deus se encarna em Jesus de Nazaré e a partir do Jesus Messias encarnado somos chamadas/os a viver o amor ao próximo, condição para Deus continuar se encarnando em nosso meio. Porém, nas comunidades que receberam a primeira carta João houve desentendimentos e conflitos por causa do grupo chamado de “anticristos”, que negou Jesus feito carne e a sua existência humana, espiritualizavam o seguimento de Jesus e sua relação com Deus, tendo como consequências o desprezo ao mandamento do amor ao próximo e a indiferença diante das injustiças e violências do mundo em que viviam.

 

Leitura do texto:  Ler 1Jo 4,1-6 e responder:

  1. a) Quem são os anticristos?
  2. b) Como reconhecer quem tem o Espírito de Deus?
  3. c) Qual o conflito que há nessas comunidades?

Situando o texto: Os falsos profetas

A segunda carta de Pedro (2Pd), uma das cartas católicas, escrita no início do século II, na Ásia Menor, descreve a presença de falsos profetas na comunidade:  Houve também falsos profetas no meio do povo. As­sim também entre vocês vão aparecer falsos mestres, introduzindo seitas maléficas. Renegando o Senhor que os resgatou, trarão rápida destruição para si mes­mos. Muitos vão seguir suas doutrinas dissolutas, e por causa deles o caminho da verdade será difamado. Por cobiça de dinheiro, com discursos enganadores, vão procurar que vocês se tomem objeto de negócios. Mas o julgamento deles já começou faz tempo, e a sua destruição não demorará (2Pd 2,1-3).

 

Renegar o Senhor, difamar o caminho da verdade, cobiçar dinheiro... Os falsos profetas não seguem o en­sinamento de Jesus Cristo e até renegam sua autoridade como Salvador, criando divisões e conflitos nas comuni­dades. Eis aqui seus principais ensinamentos e práticas, conforme a segunda carta de Pedro:

 

a) Renegar o Senhor: "Portanto, se pelo conheci­mento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo alguém se afastou das imundícies do mundo, e novamente se deixa seduzir e se rende a elas, seu último estado torna-se pior que o primeiro" (2Pd 2,20); “Especialmente os que se entregam ao próprio instinto e seus imundos apetites, e desprezam a autoridade do Senhor” (2Pd 2,10a). Os falsos mestres, tendo experimentado o poder salvífico de Jesus Cristo, agora voltam às imundí­cies do mundo e estão rejeitando o ensinamento e os atos de Jesus feito carne, transmitidos pelos apóstolos (cf. 2Pd 3,2). Renegam o Salvador Jesus Cristo, sua vida terrestre, morte, ressurreição, e a promessa da sua volta gloriosa (parusia).

 

b) Não haverá a vinda do Senhor. “Antes de tudo, vocês precisam saber que no fim dos tempos vão aparecer cínicos e zombadores, entregues a seus próprios desejos. Eles dirão: ‘O que aconteceu com a vinda dele que estava prometida? Desde que morreram nossos pais, tudo continua o mes­mo desde o início do mundo’ (2Pd 3,3-4). Diante da demora da vinda do Senhor, os falsos mestres ridicularizam e rejeitam o anúncio profético do “poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (cf. 2Pd 1,16). Não haverá segunda vinda nem julgamento final do Senhor.

 

c) Libertinagem, corrupção e imundícies: “Sua ideia de prazer é a orgia em pleno dia. Sujos e nojentos, deliciam-se nos próprios enganos quando fazem banquete com vocês. Têm os olhos cheios de adultérios, e nunca se cansam de pecar. Seduzem quem está inseguro, e a mente deles está treinada para a ambição” (2Pd 2,13-14). Como não haverá parusia nem julgamento, é permitido realizar todos os desejos.

 

Os grupos chamados de “falsos profetas” provavel­mente eram do cristianismo gnóstico, que se desenvolveu mais fortemente no século II. Para alguns deles a salva­ção estava no conhecimento ou “gnosis”. Bastava ter um esclarecimento espiritual, para estar em comunhão com Deus. O gnosticismo cristão substituía a prática concreta do amor, a essência do seguimento de Jesus, por rituais e conhecimentos espirituais desligados da vida prática. Por terem tais conhecimentos e participarem dos rituais do grupo, achavam estar em união com Deus e assim não havia pecado nem mesmo o julgamento de Deus para eles. Por isso não buscavam viver de modo coerente com o evangelho na vida diária, vivendo na libertinagem e na despreocupação com a justiça e com a defesa a dignidade humana.

 

Na segunda carta de Pedro, o autor reage energica­mente ao movimento do gnosticismo cristão, declarando que o conhecimento não é simplesmente a percepção intelectual e participação em rituais esotéricos. É uma experiência concreta de Jesus, Deus encarnado, que re­sulta no seguimento do Evangelho e na transformação moral: “Com seu poder divino, Deus nos deu tudo o que leva à vida e à piedade, por meio do conhecimento de Jesus, o qual nos chamou por sua própria glória e méri­to” (2Pd 1,3).

 

A presença de falsos profetas ou mestres gnósticos não é um problema totalmente novo na vida das comunidades cristãs. A carta de Judas, a outra carta católica, escrita um pouco antes da segunda carta de Pedro, já apresenta o conflito e a divisão por causa do pensamento e da prática dos falsos profetas:

 

a) Falsos mestres: "Nos últimos tempos aparece­rão homens cínicos, que seguirão suas paixões ímpias. São eles que provocam divisões, são psíquicos e não possuem o Espírito” (Jd 18-19).

 

b) Renegar o Senhor Jesus Cristo: "Porque se infil­traram entre vocês alguns indivíduos há tempo marcados para esta sentença: homens sem pie­dade, que transformam a graça de nosso Deus em pretexto para a indecência e renegam o único mestre e Senhor Jesus Cristo” (Jd 4).

 

c) Conhecimento irracional: “Esses indivíduos, ao contrário, blasfemam tudo o que não conhecem, as coisas que conhecem fisicamente, como ani­mais irracionais, os levam à perdição” (Jd 10).

 

d) Libertinagem: “São uns murmuradores, revolta­dos contra o destino, que se deixam levar pelas próprias paixões. Sua boca profere palavras ar­rogantes e, se louvam as pessoas, é por interesse” (Jd 16).

 

e) Contaminar a refeição fraterna: "São eles que contaminam as refeições fraternas de vocês, regalando-se com irreverência e apascentando a si mesmos” (Jd 12a).

 

No fim do século I ou início do século II, a segunda carta de Pedro e a carta de Judas mostram urgência em seus propósitos: advertir as comunidades cristãs contra os falsos profetas ou mestres, que podem ser os precur­sores do movimento gnóstico. Repreendem e rejeitam os pensamentos e as práticas deles, que estão atuando dentro das comunidades, os quais buscam destruir a fé alimentada pela prática do evangelho de Jesus Cristo, transmitido pelos apóstolos (cf. Jd 3).

 

Como as duas cartas católicas (Jd e 2Pd), a primeira carta de João, uma carta católica do fim do século I ou início do século II, tem o mesmo problema e objetivo de advertir as comunidades contra os falsos profetas ou anticristos, que brotam do seio das comunidades:

 

a) Surgiram do seio da comunidade'. “Eles saíram do meio de nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco. Mas eles nos deixam, para que ficasse claro que nem todos eram dos nossos” (2,19).

 

b) Mundo e libertinagem'. “Não amem o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - os maus desejos vindos da carne e dos olhos, a arrogância provocada pelo dinheiro - são coisas que não vêm do Pai, mas do mundo” (2,15-16).

 

c) Renegar Jesus como o Messias: “Quem é o men­tiroso, senão quem nega que Jesus é o Messias? Esse tal é o Anticristo, aquele que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, também não tem o Pai. Quem reconhece o Filho, também tem o Pai” (2,22-23).

 

d) Conhecer a Deus: “É assim que sabemos se conhe­cemos a Deus: se guardamos seus mandamentos. Quem diz que conhece a Deus, mas não trata de guardar os mandamentos dele, é mentiroso; nesse não está a verdade” (2,3-4).

 

Alguns membros se afastam da comunidade porque pretendem viver a vida que vem do mundo do Maligno (cf. 2,14-15): são dominados pelos desejos de riqueza e de prazer, por isso, rejeitam Jesus como Cristo, o Messias, e não praticam os mandamentos do amor ao próximo. Mas eles dizem que têm o conhecimento (gnosis) de Deus, por isso, estão em comunhão com Deus e estão isentos de pecado e julgamento. Com seus pensamentos e prá­tica, eles provocam conflito e divisão na comunidade. A terceira carta de João, por exemplo, lembra a presença do grupo que não assume a prática da hospedagem de acolher seus irmãos na comunidade.

 

Diante do conflito desordenado com os inimigos ou rivais, o autor da primeira carta de João reage energica­mente, condenando e declarando que eles são “anticristos”, que têm aparecido na comunidade (cf. 2,18). Alerta a comunidade para que fique atenta e saiba discernir quem são os anticristos ou os falsos profetas. Em lJo 4,1-6, o autor aprofunda e resume o critério de discernimento.

 

Comentando o texto: 4,1-6 - preservar-se dos falsos profetas

Sempre houve aqueles que tentavam seduzir e des­viar o povo do caminho do Deus da vida, sejam eles pro­fetas da corte de Judá (cf. Mq 3,9-12) ou falsos profetas ou ainda mestres no meio das comunidades cristãs (cf. Mt 7,15-17). Homens e mulheres do Deus da vida não deixam de discernir e combater os pensamentos e as práticas dos falsos profetas e advertir a comunidade a não se envolver com tais pessoas. Esse também foi o trabalho do autor e seu grupo da comunidade cristã da primeira carta de João diante de seus adversários, chamados de anticristos ou falsos profetas.

 

Um dos pontos mais importantes de discernimento é saber: quem vem de Deus e quem vem do mundo do Ma­ligno? Por via de regra, os falsos profetas se consideram mais religiosos e mais perto de Deus. Alegam proclamar sob  a inspiração do Espírito de Deus todo-poderoso. Mas, na verdade, há vários espíritos, como alerta o autor da 1 Jo: “Amados, não acreditem em todos os que dizem ter o Espírito. Ao contrário, examinem os espíritos, para ver se vêm de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora” (4,1).

 

Na comunidade de 1Jo, são muitos os anticristos que têm aparecido no meio dos seguidores de Jesus, alegando falar com o Espírito de Deus (cf. 2,18). Mas o autor exalta que os membros da comunidade devem possuir “a unção que vem do Santo, e têm a sabedoria” para discernir entre o que vem de Deus e o que vem do mundo (cf. 2,20). Ou seja, com a unção do Espírito San­to (batismo - crisma), os membros cristãos conhecem e experimentam a presença de Deus, sua Palavra, Verdade e Vida, em Jesus Cristo (cf. 2,27).

 

Segundo a comunidade joanina, a ação do Espírito (paráclito, advogado, espírito da verdade, Espírito Santo) é recordar, ensinar e completar o ensinamento de Jesus Cristo: “O Advogado, o Espírito Santo, que o Pai vai en­viar em meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e lembrará a vocês tudo o que eu lhes tenho dito” (Jo 14,26).

 

Mas não se trata de qualquer Jesus Cristo. A fé ali­mentada e transmitida pelos evangelhos professa Jesus Cristo como Deus encarnado no meio da humanidade: "A Palavra (Verbo) se fez carne e armou sua tenda entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que ela tem como Filho único do Pai, cheio de graça e verdade” (Jo 1,14).

 

Jesus Cristo é verdadeiro ser humano (carne), ma­nifestado, visto e tocado: “O que temos ouvido, o que temos visto com nossos olhos, o que temos contemplado e nossas mãos têm apalpado” (1,1); não um Jesus Cristo de simples espírito, “conhecido” e pregado pelos anticristos, os gnósticos, mas Jesus, o Messias encarnado, que viveu, caminhou e trabalhou com seu povo sofrido, para pro­mover a justiça, a liberdade e a vida. É Jesus Cristo com sua prática libertadora, prisão, tortura, paixão, morte e ressurreição.

 

Portanto, é ponto crucial reconhecer Jesus Cristo como o Filho de Deus encarnado para distinguir quem tem o Espírito de Deus: “E assim que vocês saberão se alguém tem o Espírito de Deus: Quem reconhece que Jesus Cristo veio na carne, esse vem da parte de Deus" (4,2). Jesus é o Cristo Salvador encarnação de Deus: sua total humanidade como o Messias e sua total divindade como o Filho de Deus (cf. F1 2,6-11).

 

Porém, não é suficiente discernir e reconhecer Jesus Cristo encarnado, é necessário praticar sua palavra para estar em comunhão com o Espírito de Deus: "Que acredi­temos no nome do seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, conforme o mandamento que ele nos deu. Quem guarda os mandamentos dele permanece em Deus, e Deus nele. Nisso percebemos que Deus permanece em nós: pelo Espírito que ele nos deu” (3,23-24). Não existe comunhão com Deus sem amor!

 

Os anticristos são os que não agem assim, os que dizem ter o Espírito de Deus, mas não amam seus irmãos porque negam Jesus Cristo vindo na carne, para praticar a justiça, o amor e promover a vida. Eles são os falsos profetas que não falam sob a inspiração divina, mas sob o espírito do Anticristo: "todo aquele que não reconhece a Jesus, não vem de Deus. Esse é o espírito do Anticristo. Vocês têm ouvido dizer que o Anticristo está para vir; no entanto, ele já está no mundo” (4,3); “Eles são do mundo, e por isso falam a linguagem do mundo, e o mundo os ouve” (4,5).

 

Essas duas frases resumem quem são os falsos pro­fetas ou os anticristos. Eles foram da comunidade cristã, ungidos pelo Espírito Santo e possuíam a sabedoria de discernir e ensinar quem é Jesus Cristo (cf. 2,18-22). Mas se afastaram da comunidade, porque pretendiam viver da maneira do mundo possuído pelo Maligno: “Tudo o que há no mundo - os maus desejos vindos da carne e dos olhos, a arrogância provocada pelo dinheiro” (2,16a). É o modo de viver da sociedade greco-romana: a busca ilimitada de bens, poder, prazer e honra com a exploração dos pobres e escravos.

 

E os falsos profetas continuam dizendo que eles são cristãos e falam sob o Espírito de Deus, seduzindo os fiéis e provocando desentendimentos e conflitos na comunida­de. Agora, como eles se justificam dizendo ser cristãos? Aí, há a mudança do ensinamento: a) Não reconhecem Jesus Cristo como o Messias encarnado, ou seja, sepa­ram sua realidade humana da sua função messiânica; b) Negam a prática libertadora de Jesus, sua prisão, morte e ressurreição; c) Consideram Jesus Cristo como uma imagem ou aparência de Deus porque a divindade jamais assume a carne humana - a matéria que é considerada essencialmente má segundo a filosofia grega; d) Pregam o conhecimento racional e espiritual de Deus como o único caminho de estar em comunhão com Deus e com Jesus Cristo "espiritual”.