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3 -Jesus: o messias das pessoas excluídas...
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Jesus: o messias das pessoas excluídas

Por Centro Bíblico Verbo

 

A história de Jesus não é individual, mas está profundamente enraizada na história do povo de Israel e de vários povos. As comunidades de Mateus afirmam que Jesus é o legítimo Messias, mas de uma família marcada pela presença de excluídos. É o Messias que ultrapassa a lei do puro e impuro. É o Messias dos excluídos!

Esperamos em Deus, nosso Salvador, pois a força de nosso Deus é eterna em misericórdia, e o reino do nosso Deus é para sempre sobre as nações em julgamento. Senhor, tu escolheste a Davi como o rei de Israel e jurou-lhe sobre sua descendência para sempre, para que o seu reino não declinasse antes de ti (Salmos de Salomão 17,3-4).

Esse salmo foi extraído de um livro apócrifo do Antigo Testamento. Provavelmente escrito pelo grupo dos fariseus por volta do ano 50 a.C., revela a expectativa messiânica, criada pela elites religiosas judaicas ao longo da história de Israel.

1. O rei-messias e o juiz-messias

A espera de um rei-messias poderoso, como o rei Davi, tem a sua origem no reinado da casa davídica, que praticamente controlou o povo de Judá durante 400 anos. Na longa tentativa de dominação, a imagem do rei davídico se fortalece, como é possível perceber no Salmo 2,2.6-12:

Os reis da terra se insurgem, e, unidos, os príncipes enfrentam Javé e seu Messias. “Fui eu que consagrei o meu rei sobre Sião, minha montanha sagrada!” Publicarei o decreto de Javé: Ele me disse: “Tu és meu filho, eu hoje te gerei. Pede, e eu te darei as nações como herança, os confins da terra como propriedade. Tu as quebrarás com um cetro de ferro. Como um vaso de oleiro as despedaçarás”. E agora, reis, sede prudentes, deixai-vos corrigir, juízes da terra. Servi a Javé com temor, beijai seus pés com tremor, para que não se irrite e pereçais no caminho, e num instante sua cólera inflama. Felizes aqueles que nele se abrigam.

O Salmo 2 surgiu para ser cantado na liturgia da coroação de um novo rei. Esse salmo descreve o rei de Judá como filho de Deus e dominador das nações. O rei conduz o seu povo e os povos vizinhos para ter temor a Javé, apresentado como divindade violenta e castigadora. O rei e os poderosos de Judá seguem no mesmo caminho dos grandes impérios, como o Egito e a Assíria: a imagem do rei-messias é criada à semelhança dos imperadores, com o poder do exército e da religião.

No tempo do exílio, o messianismo do rei poderoso transforma-se no elemento dominante do projeto de reconstrução de Judá. Em 597 a.C., Nabucodonosor, imperador da Babilônia, com seus oficiais, tomam a cidade de Jerusalém (cf. 2Rs 24,1-17). Uma parte dos dirigentes de Jerusalém é deportada para a Babilônia. Nesse grupo estão o rei Joaquin, sua família, os altos funcionários, os artesãos de Jerusalém, a aristocracia militar e os sacerdotes oficiais, entre os quais Ezequiel, sacerdote-profeta (cf. 2Rs 24,12-16; Ez 1,1-3).

Com a destruição de Jerusalém em 587 a.C., a ideia messiânica do rei poderoso como Davi, retomada pelo grupo de Ezequiel, torna-se um elemento importante para fortalecer a identidade do grupo no exílio e para reanimar a esperança da reconstrução de Judá:

Suscitarei para eles um pastor que os apascentará, a saber, o meu servo Davi: ele os apascentará, ele lhes servirá de pastor. E eu, Javé, serei o seu Deus e meu servo Davi será príncipe entre eles. Eu, Javé, o disse. Concluirei com eles uma aliança de paz e extirparei da terra as feras, de modo que habitem no deserto em segurança e durmam nos seus bosques (Ez 34,23-25).

Além disso, acrescenta a observância da Lei à característica do rei-messias: “O meu servo Davi será rei sobre eles, e haverá um só pastor para todos, e andarão de acordo com as minhas normas e guardarão os meus estatutos e os praticarão” (Ez 37,24).

No exílio da Babilônia não havia culto nem templo de Javé. Em toda parte, os exilados recebiam influências da religião poderosa e sofisticada da Babilônia. Para manter a identidade e a unidade do grupo deportado de judeus na Babilônia, o grupo de Ezequiel, então, insistiu em observar os ritos e os estatutos de Deus: “Não voltarão a contaminar-se com seus ídolos imundos, com suas abominações e com todas as transgressões. Salvá-los-ei das suas apostasias com que pecaram e os purificarei, para que sejam o meu povo e eu seja o seu Deus” (Ez 37,23). No exílio, a observância da Lei passa a ser uma das principais formas de o grupo manter a sua identidade como povo eleito e a sua esperança na restauração da dinastia e expressar a sua fidelidade a Javé (Zc 7,1-3; 8,18-19).

Após o tempo do exílio, a religião recriada e praticada pelo grupo de Ezequiel se tornará a base do governo teocrata de Neemias e de Esdras: a terra santa, o povo eleito, a lei do puro e do impuro, os ritos – circuncisão, sábado, jejum –, a teologia da retribuição, a responsabilidade individual etc. Esses elementos, futuramente, constituirão também a base teológica da nata do sinédrio, que condenará Jesus de Nazaré.

Nessa circunstância, a figura do defensor da Lei adquire força nas características do Messias. Na esperança do império judaico estabelecido pela intervenção de Deus, a libertação só acontece com a chegada do juiz-messias, que salva os puros e condena os impuros, segundo a observância das leis e dos ritos:

Este é o Messias que o Altíssimo tem mantido até o fim, que surgirá da posteridade de Davi e virá a denunciá-los por sua impiedade cruelmente malícia e por suas relações desrespeitosas. Eles serão colocados ante sua cadeira de juiz, e ele os reprovará e condenará (4 Esdras 12,32-33).

O quarto livro de Esdras é um apócrifo cujo autor e origem são desconhecidos. Possivelmente foi escrito no final do primeiro século d.C. Esse livro fala de um reino messiânico antes do Juízo Final, no qual o pequeno número dos puros será salvo e entrará na Jerusalém celeste. No Juízo Final, o messias, como conhecedor e defensor da Lei, estabelecerá o tribunal e determinará a salvação para todos.

Em síntese, as características do messianismo, nascidas ao longo da história do judaísmo, são as seguintes: 1) O rei-messias, com a esperança de um império judaico estabelecido pela intervenção de Deus; 2) Um rei de estirpe davídica; 3) Um filho de Israel como povo eleito de Javé; 4) O juiz-messias como defensor da Lei.

Assim delineado, o messianismo aparece na oração sinagogal, organizada em sua forma atual sob a orientação do rabino Gamaliel II, fariseu e um dos melhores professores da Lei, por volta do ano 100 d.C.:

Rapidamente faze com que a descendência de Davi, seu servo, floresça, e levante a sua glória pela sua ajuda divina, porque esperamos por tua salvação todo dia. Bendito és tu, ó Eterno, que faz com que a força da salvação floresça (Oração das dezoito bênçãos, 15. Oração para o rei messiânico).

A Oração das dezoito bênçãos é entoada na sinagoga com a orientação dos fariseus, cujos escribas e mestres da Lei impõem uma interpretação única da Lei. Depois do ano 70 d.C., os judeus fariseus ortodoxos e impositivos começam a excluir e perseguir os outros grupos judeus com tendências e tradições divergentes, incluindo os judeo-cristãos. Para os judeus fariseus, o fato de Jesus ter vivido no meio dos impuros e morrido na cruz era um escândalo (1Cor 1,23).

O Evangelho de Mateus nasceu nesse contexto de confronto e perseguição com os judeus fariseus, especialmente com as autoridades da sinagoga. No primeiro capítulo, a porta de entrada do livro, as comunidades de Mateus apresentam a genealogia de Jesus de Nazaré. Jesus é descrito como Messias e Filho de Deus de uma forma diferente do judaísmo farisaico.

2. A genealogia de Jesus Cristo

O início do Evangelho de Mateus pode ser entendido como título que introduz todo o livro: “Livro da origem de Jesus Cristo” (Mt 1,1a). A expressão “origem” lembra a criação. Com Jesus, inicia-se a nova criação da humanidade. O nome Jesus é a forma grega do hebraico Joshua e significa “Deus salva”. Cristo é a forma grega do termo hebraico “messias”, que significa “ungido”, ou seja, alguém escolhido para o serviço de Deus.

Depois aparece uma lista dos antepassados ou a genealogiade Jesus. A genealogiacomprova que alguém pertence a uma família, clã, tribo e povo. É algo muito característico da cultura judaica. Só era considerado membro de Israel, o povo eleito, quem pertencia à família judaica. Uma pessoa sem família não tinha identidade, não era cidadão nem tinha espaço na comunidade. Por meio das famílias, eram transmitidos costumes, ideias, memória de lutas, derrotas e vitória (Sl 44,2).

Os primeiros nomes na genealogia: “Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1b). Ao relacioná-lo com Davi e Abraão, duas figuras principais da história de Israel, as comunidades de Mateus mostram que Jesus tem profundas raízes no povo eleito. Ele é verdadeiramente o Messias prometido, o fruto final de uma história de buscas, lutas e vitórias. Seu nascimento é entendido na perspectiva da bênção e da promessa de Deus a Abraão (Gn 12,2-3). Jesus é o Messias prometido ao povo que luta pela vida abençoada, terra e paz.

Essa afirmação da identidade de Jesus como o Messias prometido é reforçada, de modo especial, pela apresentação da genealogia. A lista dos antepassados de Jesus segue uma estrutura de três unidades: de Abraão até Davi; de Davi até o exílio na Babilônia; do exílio babilônico até Jesus, numa sequência de três vezes quatorze gerações (Mt 1,17). É importante lembrar que as consoantes do nome David possuem esse valor numérico: D = 4; V = 6; D = 4. O número 14 é múltiplo de 7. Ou seja, Jesus é a plenitude das gerações e Messias-Rei. O interesse do Evangelho de Mateus é mostrar que o messianismo de Jesus tem profundas raízes no povo eleito.

Mas há uma surpresa: todos esperavam que o Messias fosse um rei poderoso como Davi e viesse defender o povo contra seus inimigos. Jesus, no entanto, foi um Messias diferente do esperado, apesar de filho de Davi.

A genealogia de Jesus em Mateus traz características muito especiais, não encontradas no Evangelho de Lucas (3,23-38). Além de estar organizada em três blocos de quatorze gerações (Mt 1,17), também inclui cinco mulheres (Mt 1,3.5a.5b.6.16), todas as quais com algum problema em relação à Lei judaica. Vejamos quem eram essas mulheres:

  • Tamar (Mt 1,3): estrangeira, casada com o filho primogênito de Judá, fica viúva e sem filho. Na luta por seus direitos e pela vida, seduz o sogro e torna-se a mãe de um filho, a continuidade da família (Gn 38).
  • Raab (Mt 1,5a): estrangeira solidária, que reconhece que o Deus de Israel salva o povo na guerra (Js 2).
  • Rute (Mt 1,5b): estrangeira (moabita), pobre e viúva, solidariza-se com sua sogra israelita e abre-se a outra cultura e tradição, lutando pela vida (Rt 1-4).
  • Mulher de Urias (Mt 1,6): ela, Betsabeia, podia ser uma israelita, mas era casada com um hitita, o que a tornava uma estrangeira, conforme a interpretação tardia da Lei (2Sm 11).
  • Maria (Mt 1,16): a mãe de Jesus. A gravidez dela estava fora da Lei (Mt 1,18).

As mulheres citadas, de acordo com a Lei, eram excluídas, mas ajudaram a salvar Israel. Ao incluir esses nomes, as comunidades de Mateus afirmam que Jesus é o legítimo Messias, mas de uma família marcada pela presença de excluídos. É o Messias que ultrapassa a Lei do puro e impuro. É o Messias dos excluídos!

A genealogia afirma que o homem é o responsável pela descendência: “Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacó, Jacó gerou Judá e seus irmãos…”. O homem é o sujeito, e a mulher tem a função de auxiliar na geração dos filhos. Quando chega a Maria, rompe-se essa estrutura: “José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo” (Mt 1,16). Maria é o sujeito, e não se menciona a atividade do pai. Maria, a serva do Senhor, não está a serviço da estrutura patriarcal vigente, que marginaliza e exclui as pessoas fora da Lei.

A história de Jesus não é individual, mas está profundamente enraizada na história do povo de Israel e de vários povos. As comunidades de Mateus reafirmam que ele é a realização da bênção para todas as nações. É o único e verdadeiro Messias.

3. O nascimento e a infância de Jesus Cristo[1]

E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo (Mt 2,6; cf. Mq 5,1).

As histórias do nascimento e da infância, bem como todo o evangelho, não são biografia. Trata-se de uma narrativa que contém a proposta teológica e catequética de Mateus. Ao reagir à perseguição do grupo dos fariseus e às divergências internas no cristianismo, as comunidades de Mateus devem testemunhar para que todos reconheçam em Jesus de Nazaré o Messias.

Depois de apresentar a genealogia de Jesus como o Messias prometido a Israel, o Evangelho de Mateus deixa claro, em seus dois primeiros capítulos, que esse Jesus, o Messias dos excluídos, será rejeitado e perseguido pelos governantes e seus partidários judeus em Jerusalém, mas acolhido pelos magos e nazarenos, representantes de todos os povos.

Assim, o evangelho descreve a história do anúncio a José, homem justo, e a dos magos do Oriente, para convocar todos e todas a se tornarem discípulos e discípulas do Senhor Jesus pela prática da justiça, de modo que Jesus é o novo Moisés e a comunidade de seus discípulos o novo Israel, no qual os pobres, personificados no Nazareno da Galileia, são acolhidos. Eis as mensagens desta dita narrativa da infância de Jesus:

1) Anúncio a José (Mt 1,18-25)

Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamarão com o nome de Emanuel (Mt 1,23; cf. Is 7,14).

Mateus apresenta Jesus como Filho de Deus com mãe humana. É o mistério da vida, no qual Deus Pai-Mãe, gerador de vida, toma a iniciativa e encontra acolhida em Maria, símbolo da humanidade sedenta de vida. José, de início, tem muita dificuldade em aceitar aquela gravidez difícil de explicar.

A Lei condenava as mulheres que aparecessem grávidas antes do casamento (Dt 22,13-21). Se José fosse justo conforme a Lei oficial, teria de denunciar Maria, mas ele é apresentado como alguém que vive a nova prática da Lei. O encontro com o anjo faz José entender qual é o projeto de Deus: a defesa radical da vida. Dessa forma, Maria é o símbolo da humanidade que acolhe a graça de Deus, e José é o símbolo do homem verdadeiramente justo, que põe a vida acima da Lei.

Mateus quer mostrar que o motivo da decisão de José é o desígnio de Deus anunciado pelo profeta Isaías (Is 7,14), que afirmava que o Filho de Davi seria a manifestação de Deus presente na história. Essa criança é o Emanuel – Deus conosco (Mt 1,22-23) –, nascido de uma virgem por pura iniciativa de Deus. O nascimento de Jesus, que significa “Javé salva” (Mt 1,21), elimina a separação entre Deus e o ser humano.

Esta afirmação da presença de Jesus – Deus conosco – na comunidade é tão importante, que aparece no início (Mt 1,23), no meio (Mt 18,20) e no fim do evangelho (Mt 28,20), constituindo o seu eixo principal. Por meio da presença, da palavra e da prática de Jesus, revela-se a certeza bíblica presente no nome de Deus (Ex 3,14-15). Ele esteve, está e estará conosco (Ap 1,8)!

2) Magos do Oriente (Mt 2,1-12)

Eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos sua estrela no céu surgir e viemos homenageá-lo” (2,1-2; cf. Nm 24,17).

Para indicar o nascimento do menino, Mateus fala de uma estrela. Os orientais costumavam dizer que uma estrela especial surgia quando nascia alguém muito importante. As comunidades de Mateus querem enfatizar a importância do nascimento de Jesus e nos dizer que essa presença de Deus conosco é ameaça para uns e esperança para outros. Os magos do Oriente, simbolizando as diversas nações, buscam o Messias. Por isso, dirigem-se a Jerusalém, centro político, econômico e religioso da Palestina, para pedir informações, porque querem homenageá-lo (Mt 2,2). É o tempo do reinado de Herodes, testa de ferro de Roma, império que oprimia e marginalizava o povo.

Herodes e toda a sua elite entram em pânico (Mt 2,3). Chama os chefes dos sacerdotes e escribas, para que verifiquem as Escrituras (Mt 2,4). Estes confirmam, com base no profeta Miqueias (Mq 5,1), que o Rei dos judeus nasceria em Belém de Judá. O pavor do rei aumenta. O nascimento desse menino é uma ameaça para todos aqueles que oprimem o povo. A solução é perseguir e eliminar quem está no meio do povo lutando por sua libertação. Por trás dessa história, está a experiência concreta das comunidades de Mateus (Mt 10,23).

Para concretizar seus planos, Herodes pede aos magos que o mantenham informado de suas descobertas, para que ele também possa prestar homenagem ao novo rei (Mt 2,8). Eles partem, chegam à casa e encontram o menino e sua mãe (Mt 2,11). O encontro com Jesus se dá na casa, onde há lugar para todos.

Os presentes dos magos expressam seu reconhecimento. Jesus é verdadeiramente o Messias, rei justo e misericordioso, que morre pela sua prática em favor da vida e será ressuscitado por Deus e reconhecido por todos como Filho de Deus (Mt 27,54). Os estrangeiros da história de Mateus sabem discernir os sinais. Despistando as elites, os magos voltam para suas terras e culturas de origem por caminhos diferentes (Mt 2,12).

3) Fuga para o Egito (Mt 2,13-18)

Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel chora seus filhos; e não quer consolação, porque eles já não existem (2,18; cf. Jr 31,15).

Herodes ficou furioso por ter sido enganado pelos magos. O nascimento desse menino põe em risco a situação vigente. Era preciso uma solução imediata: matar todos os meninos de Belém e de seus arredores com menos de 2 anos (Mt 2,16).

Segundo a história contada pelos judeus, a mesma medida fora adotada pelo faraó do Egito, 1.200 anos antes, para eliminar o povo hebreu que se tornava um perigo para o Estado opressor (Ex 1). A violência é ilustrada pela lamentação de Raquel, representando a mãe israelita que chora a morte de seus filhos no desastre nacional da destruição de Jerusalém e do exílio na Babilônia. Em meio à perseguição e morte, Moisés fora salvo (Ex 2,1-10). Jesus também escapou da morte.

Diante do perigo iminente, José obedece à ordem divina: “Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito. Ali ficou até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que dissera o Senhor por meio do profeta: Do Egito chamei o meu filho” (Mt 2,14-15). A citação de Os 11,1 refere-se, em seu contexto original, a Israel, libertado da escravidão do Egito para formar um povo eleito e amado por Deus.

Aqui o menino Jesus, chamado de “meu filho”, salvo das mãos de Herodes, foge para o Egito, a terra de Moisés, e depois volta à terra prometida para formar o novo povo de Israel, as comunidades cristãs. Toda a narrativa mostra o papel de Jesus: ele será o novo Moisés. Vai ser o libertador do povo sofrido, vítima inocente da ambição do poder.

4) Volta do Egito (Mt 2,19-23)

Ao ter notícias da morte de Herodes, José voltou com Maria e Jesus para a Palestina. Como o substituto de Herodes na Judeia era seu filho Arquelau, tão violento quanto o pai, José se dirigiu com a família para a Galileia: “foi morar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareu” (Mt 2,23).

Como se pode observar, Mateus cita continuamente o Antigo Testamento, pois quer mostrar que, em Jesus, as Escrituras se cumpriram. A ação de Jesus e a fé que a comunidade deposita na pessoa dele estão em continuidade com as tradições e promessas da história de Israel. O evangelista busca nas profecias a confirmação para a autoridade de Jesus e, ao mesmo tempo, apoio para a fé e a vida de suas comunidades (cf. Is 42,1-9). Por sua vez, os judeus fariseus procuravam nas mesmas escrituras fundamento para sua expectativa messiânica.

As comunidades de Mateus querem deixar claro que Jesus é filho de Abraão, filho de Davi, o novo Moisés. Ele é o Messias prometido que veio para todos, especialmente para os camponeses explorados e oprimidos de seu tempo, que constituíam 90% ou mais da população da Palestina. Os judeus fariseus rejeitam Jesus porque ele não corresponde às suas expectativas messiânicas triunfalistas e legalistas.

As diferentes reações diante da chegada de Jesus são apresentadas por Mateus com a visita dos magos, estrangeiros, e a acolhida dos nazarenos, os pobres galileus. Enquanto os peritos da Lei recusam o verdadeiro Rei e os governantes o procuram para matá-lo, os impuros (gentios e pobres) procuram-no, acolhem-no e lhe oferecem presentes. Jesus não oferece uma salvação pela violência, não pretende realizar o sonho de uma nação judaica triunfalista, como queriam alguns. A salvação vem quando a humanidade reconhece sua fraqueza e começa a organizar o mundo a partir dos “pequenos”.

Jesus é Filho de Deus e da história humana. Ele é a síntese do mistério da vida, no qual Deus toma a iniciativa de oferecer vida e a humanidade, representada por Maria e José, acolhe essa vida. O Espírito de Deus produz vida quando há receptividade e abertura. Como Deus tem se manifestado na vida de nosso povo? Quais os sinais de acolhida e de resistência a essas manifestações?

[1] Reflexão baseada no livro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Ele está no meio de nós! O semeador do Reino: o Evangelho de Mateus, São Paulo, Paulus, 1998, p. 43-48.

Centro Bíblico Verbo

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E-mail: cbiblicoverbo@uol.com.br