1- Motivação da aula de hoje: O livro da Sabedoria nos ensina que Deus não compactua com a injustiça. Vimos também que os justos são perseguidos porque o seu próprio modo de vida é uma denúncia da vida dos ímpios. Hoje, vamos refletir sobre o exercício do poder.
Os governantes injustos pensam unicamente em seus próprios interesses. A ambição e a ganância deles por riquezas, poder, prazer e honra provocam uma situação de miséria, violência e morte para o povo. O que nós temos a dizer sobre a realidade dos nossos governantes?
“Doze meses na detenção, 72 anos de prisão em três sentenças e a possibilidade de, no mínimo, condenações a três séculos de cadeia em 13 denúncias já ajuizadas. Assim o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), completa seu primeiro ano preso, enquanto se defende de acusações de crimes por corrupção, lavagem de dinheiro, pertencimento a organização criminosa e evasão de divisas”. ("Penas de até 300 anos ameaçam Cabral", em O Estado de São Paulo, A6, col.1,17 de novembro de 2017)
"E já que se falou de TCU, que tal o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ)? Dos sete conselheiros, cinco, inclusive o presidente, Aloysio Neves, são acusados de corrupção pela Operação ‘O Quinto do Ouro’, por aceitarem propinas à época do governo Sérgio Cabral. A eles se junta mais um ex-conselheiro. Enquanto isso, quem sofre é a população carioca, sem salários, sem décimo terceiro, sem saúde e educação e ameaçada por ladrões e assassinos sanguinários” (Eliane Cantanhêde, "O Rio de Janeiro chora", em O Estado de São Paulo, A6, col.4 e 5, 17 de novembro de 2017).
2- Leitura do texto: O apelo aos governantes para que governem segundo o “Espírito de Deus” transparece em diversos textos do Antigo Testamento. E é um importante texto da teologia política do Antigo Testamento. Em Alexandria, somente os homens livres, com cidadania plena, participavam das discussões e das decisões. Os trabalhadores braçais, os camponeses, as mulheres e os escravos não podiam participar das assembleias. Dentre os 150 mil migrantes judeus que viviam em Alexandria, muitos eram pobres, sofriam mais com a exclusão promovida pelos romanos e seus aliados. O autor do livro da Sabedoria acreditava que Deus havia preparado os governantes para governar segundo a sua sabedoria e, por isso, grita pelo exercício justo do poder segundo a vontade de Deus: “O governo que vocês têm nas mãos foi-lhes dado pelo Senhor, e o domínio provém do Altíssimo” (6,3). O texto que iremos estudar hoje é Sb 6,1-11. Abra a sua bíblia e leia com atenção esses versículos e depois procure responder as seguintes perguntas:
3-Situando o texto que acabamos de ler. O exercício do poder segundo o Espírito de Deus. Ao longo da história de Israel, o apelo aos governantes para exercerem o poder com justiça, segundo o “Espírito de Deus”, transparece em diversos textos do Antigo Testamento. O mais conhecido e importante é o primeiro cântico do “servo de Javé”: Vejam meu servo, a quem eu sustento. Ele é o meu escolhido, nele tenho meu agrado. Eu coloquei sobre ele meu espírito, para que promova o direito entre as nações. Eu, Javé, chamei você para a justiça, tomei-o pela mão, e lhe dei forma. E o coloquei como aliança de um povo e luz para as nações, para você abrir os olhos dos cegos, para tirar os presos da cadeia, e do cárcere os que vivem no escuro (1s 42,1.6-7).
Como nasce o cântico do servo? Apesar das constantes críticas e exigências para uma política justa, apresentadas pelos profetas (Am 5,14-15; Mq 3,1.9; Is 11,1-9), os governantes de Judá se corrompem, roubam e cometem crimes em busca de lucro e poder (Mq 3,9-12). Entram em guerra contra a Babilônia (Jr 28) e provocam mortes, deportações e o desastre nacional: “Pelos pecados dos profetas e pelos crimes dos sacerdotes é que derramaram sangue inocente dentro da cidade de Jerusalém” (Lm 4,13).
O grupo da segunda deportação, de onde surgiu o Segundo Isaías (1s 40-55), não teve a mesma sorte dos primeiros deportados - o grupo do profeta Ezequiel -; foi tratado como escravo e despojo da guerra no exílio da Babilônia (1s 42,22). No sofrimento do exílio, o grupo do Segundo Isaías, em sua maioria, camponeses empobrecidos - “os pobres da terra” -, lança um olhar sobre a história e constata que há muitos anos o povo vem sendo oprimido pela tirania dos grandes impérios e explorado pelos próprios governantes da monarquia. A partir de sua memória das aldeias comunitárias e também de sua experiência de sobrevivência comunitária dos exilados escravos, ele projeta uma nova liderança - “Servo”-, com as seguintes características fundamentais do exercício do poder:
a) “Eu coloquei sobre ele meu Espírito.” O poder vem do Espírito de Javé! O servo é escolhido por Deus para exercer o poder segundo a vontade dele: “O Espírito do Senhor Javé está sobre mim, porque Javé me ungiu” (1s 61,1).
b) "Eu, Javé, chamei você para a justiça.” O servo governa com justiça, promovendo o direito na terra: “Céus, gotejai lá de cima, e as nuvens chovam a justiça. Que a terra se abra e produza a salvação, e junto com ela brote a justiça. Eu, Javé, eu as criei” (1s 45,8).
c) Eu chamei você “para abrir os olhos dos cegos, para tirar os presos da cadeia, e do cárcere os que vivem no escuro”. O servo governa a terra, priorizando os pobres e pequenos, pessoas marginalizadas da sociedade: “Ele me enviou para dar a boa-nova aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos” (1s 61,1b).
O princípio do exercício do poder, que deve estar a serviço da justiça do Deus da vida, é reavivado constantemente na história posterior do povo de Israel, em especial nos momentos de crise. No pós-exílio, consolida-se a teocracia em Judá. As elites dirigentes se aliam aos persas na exploração e opressão. O templo e a lei do puro e do impuro se tornam instrumentos eficazes para explorar o povo no comércio e na coleta dos impostos. A maioria da população (camponeses) experimenta fome, miséria, expropriação da terra, morte prematura e escravidão: "Ficam molhados com as chuvas das montanhas e se apertam entre os rochedos por falta de abrigo. Arrancam o órfão do peito materno e penhoram quem é pobre” (Jó 24,8-9).
O Terceiro Isaías (1s 56-66), por exemplo, denuncia o ritualismo e o abuso dos cultos no templo, e exorta a prática da justiça com o culto agradável a Javé: “Por acaso o jejum que eu escolhi não é este: romper as amarras da injustiça, desfazer as correntes da canga, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer canga? Por acaso não é repartir seu pão com quem passa fome, hospedar em casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar diante daquele que é sua própria carne?” (1s 58,6-7). Há oprimidos, pobres sem casa e sem roupa. E uma realidade muito injusta e opressora, provocada pelos governantes, que exercem o poder sem justiça. A consequência de uma prática religiosa ritualista é a insensibilidade social.
No livro dos Provérbios, redigido por volta do ano 400 a.C., os sábios reúnem os ditos sapienciais de instruções de épocas diversas para fornecer orientações para a vida humana, na situação de crise e de perplexidade. Quanto ao exercício do poder, há vários conselhos em nome da Sabedoria, o Espírito de Deus:
Eu, a Sabedoria, moro com a sagacidade, tenho o conhecimento e o discernimento. É através de mim que os reis governam e os príncipes decretam leis justas. É através de mim que os governantes governam e os nobres fazem decretos justos (Pr 8,12.15-16).
É através de mim, É através de mim... há uma insistência em afirmar que o poder na terra vem da Sabedoria de Deus. Os governantes governam com o espírito e a mão de Javé: “Como canais de água, assim é o coração do rei nas mãos de Javé, o qual, para onde quiser, o encaminha. Todo caminho parece correto aos olhos humanos, mas é Javé quem pesa os corações” (Pr 21,1-2).
Ainda lemos outras expressões próximas, como leis justas, decretos justos, reforçando que os governantes devem administrar com justiça. Por quê? A Sabedoria de Deus é o caminho da vida com justiça: “Os reis detestam a prática do mal, porque é na justiça que o trono se firma (Pr 16,12); “Tire a escória da prata, e sairá um jarro para o ourives; tire o malvado da presença do rei, e seu trono se firmará na justiça” (Pr 25,4-5).
No livro dos Provérbios, como a exigência do Segundo Isaías, os governantes, no exercício do poder, devem dar primazia aos pobres: “Quem oprime o pobre ofende seu Criador; mas presta-lhe honra quem tem misericórdia do indigente” (Pr 14,31); “Um rei que julga os fracos segundo a verdade terá seu trono firme para sempre” (Pr 29,14).
A história dos governantes malvados se repete e agrava a vida do povo. No início do séc. II a.C., os Selêucidas (Síria) derrotam os Ptolomeus (Egito) e começam a dominar a Palestina. Promovem a helenização, impondo ao povo judeu a cultura, a religião e os costumes gregos com o poder do exército (guerras), a urbanização (cidade), o comércio livre e pesados impostos. Com tudo isso, aumenta a exploração interna e externa da vida dos camponeses: pobres, fracos, doentes (cf. Eclo 4,1-4).
Diante do avanço da helenização e do sofrimento do povo, Jesus Ben Sirac, um sábio de Jerusalém - mestre da sabedoria (Eclo 50,27) -, contrário à implantação forçada da cultura grega em busca da riqueza e do poder, escreve o livro do Eclesiástico, conhecido também como Sirácida, para mostrar a riqueza da sabedoria tradicional de Israel. No livro, os conselhos e as advertências sobre o exercício do poder são reforçados:
Um rei sem instrução destrói o seu povo, e uma cidade terá prosperidade com o bom senso dos chefes. O governo da terra está nas mãos do Senhor, e no momento oportuno ele faz aparecer o homem adequado. O sucesso de um homem está nas mãos do Senhor; é ele quem concede a glória à figura do escriba (Eclo 10,3-5).
Jesus Ben Sirac bebe da mesma fonte dos sábios do livro de Provérbios: “O governo da terra está nas mãos do Senhor. Ou seja, na visão do escriba, o poder vem de Javé (Pr 16,9). O governante hei à vontade de Deus seria aquele que procura realizar a justiça na terra segundo a memória e a consciência histórica do povo de Israel: "Que o Senhor conceda ao coração de vocês a sabedoria, para governarem o povo com justiça, a fim de que os bens de Aarão não desapareçam e a glória dele passe para seus descendentes” (Eclo 45,26).
O exercício justo do poder é reavivado não só pelos judeus na Palestina, mas também na diáspora. O livro da Sabedoria, conhecido como um importante tratado de teologia política do Antigo Testamento, é escrito em Alexandria, no Egito. Trata-se de uma importante cidade grega, com um sistema escravagista, mercado livre e autonomia política.
Na política, somente os homens livres, com cidadania plena, participam das discussões e das decisões. Nelas, os homens trabalhadores, em sua maioria camponeses, as mulheres, os escravos não têm “espaços”. Aí estão os judeus, um grupo muito numeroso e, na maioria, pobre e escravo. Eles sofrem com o exercício injusto do poder dos governantes gregos e romanos, são os “sujeitos” no livro da Sabedoria e gritam por um governo justo, conforme a vontade de Deus.
Não é por acaso que o autor abre a primeira parte do livro (1,1-6,21) com uma frase que exorta os governantes a praticarem a justiça, porque o poder vem de Deus: "Amem a justiça, vocês que julgam a terra. Tenham bons pensamentos sobre o Senhor e o busquem na simplicidade do coração” (1,1). E termina com o mesmo tema: "O governo que vocês têm nas mãos foi-lhes dado pelo Senhor, e o domínio provém do Altíssimo” (6,3). Sb 6,1- 11 é um dos importantes textos da teologia política do Antigo Testamento.
4 - Comentando o texto: Sb 6,1-11 - O poder é para o serviço da justiça
A cidade de Alexandria, no Egito, berço do livro da Sabedoria, foi fundada por Alexandre, o Grande, em 322.C. Já sob Ptolomeu II e III (285-221 a.C.), a cidade, com o porto artificial voltado ao Mediterrâneo, tinha um grande movimento comercial e cultural, com uma famosa Biblioteca e o Museu. No mundo greco-romano, Alexandria, ao lado de Roma e Antioquia, era uma das três principais cidades do Império. No tempo do livro da Sabedoria (30 a.C.), a cidade alcançou a população de 600.000 habitantes. Por essa razão, não é de estranhar que o autor do livro escreva: “Escutem, portanto, reis, e compreendam! Aprendam, juízes de toda a terra! Prestem atenção, vocês que governam multidões e se orgulham do grande número de súditos!” (6,1-2).
Retomando a abertura do livro: “Amem a justiça, vocês que julgam a terra” (1,1), o autor escreve aos mandatários, especialmente para os governantes da grande cidade de Alexandria. E exorta-os ao exercício de sua função: “O governo que vocês têm nas mãos foi-lhes dado pelo Senhor, e o domínio provém do Altíssimo” (6,3).
Seguindo os princípios da teologia política do Antigo Testamento (Pr 8,12.15-16; Dn 2,21), o autor ressalta com insistência (“escutem”, “aprendam”, "prestem atenção”): o poder vem de Deus, e não da humanidade. Os reis e os governantes, como "ministros” do Reino de Deus, têm por função principal o exercício do poder segundo a vontade de Deus: "Pois, embora sejam ministros do reino dele, vocês não julgaram corretamente, não observaram a Lei, e não agiram de acordo com a vontade de Deus” (6,4).
A “Lei” aqui deve ser entendida como o Pentateuco, conforme a tradição judaica, a Torá. O Pentateuco mostra o caminho da vida a partir da experiência básica de todo ser humano. Para as autoridades, o caminho da vida é “julgar corretamente”, ou seja, a prática da justiça de acordo com a vontade de Deus. Esta é reavivada e exaltada pela literatura profética e sapiencial: “Eu detesto e desprezo as festas de vocês. Tenho horror dessas reuniões.
[...] Nem quero ouvir a música de suas liras. Eu quero, isto sim, é ver brotar o direito como água e correr a justiça como torrente que não seca” (Am 5,21.23-24). O exercício do poder de Deus consiste em seguir o caminho da vida, no direito e na justiça.
Paralelamente a Sb 1,6-10, este Deus não é aquele que não vê, não percebe, não escuta, não age, mas sabe, vigia, premia, julga e castiga: “Ele examinará as obras que vocês praticam e sondará em vocês as intenções” (6,3). O Deus da história é aquele que caminha com o povo! E, no julgamento, transparece o outro princípio da teologia política: “Ele virá sobre vocês repentinamente e de modo terrível, porque contra os que têm muito poder cabe um julgamento implacável. Os pequenos serão perdoados com misericórdia, mas contra os poderosos o julgamento será poderoso” (6,5-6).
Todos serão julgados diante de suas práticas de justiça: seus atos e suas omissões. Há uma diferença, porém: o julgamento dos governantes será severo porque o próprio Deus terá mais misericórdia com os pobres do que com os poderosos. Na tradição bíblica, Deus Javé libertador se alia aos que são explorados e marginalizados pela sociedade injusta (Ex 3,7-10). Os governantes, ministros de Deus na terra, então, devem priorizar os pobres e pequenos, salvando-os diante da opressão e da injustiça. Com esse princípio de exercício do poder, os governantes injustos serão julgados com mais rigor, de acordo com a repercussão social de sua prática injusta com os pobres.
O julgamento será "repentino”, “terrível”, “poderoso”, “implacável”. Nele, Deus não recuará diante dos poderosos da terra: “O Senhor de tudo não recuará diante de ninguém, a grandeza não o impressionará; porque ele fez tanto o pequeno como o grande, e ele tem atenção igual para com todos” (6,7). Segundo a tradição do “dia de Javé”, o castigo de Javé é implacável contra a injustiça e a hipocrisia dos poderosos (Am 5,18-20; Sf 1,15).
Em Alexandria, a maioria da população na época era pobre e marginalizada. Segundo o historiador grego Diodoro Sículo, que viveu no século I a.C. em Alexandria, havia os milhares de escravos e estrangeiros, como os imigrantes judeus. Os pobres eram vítimas de constante exploração e humilhação. Nessa dura realidade, o autor convoca os governantes para prestarem contas ao Deus da justiça. Seus atos serão julgados: “Os poderosos serão rigorosamente investigados” (6,8). Eles sairão ilesos na investigação?
Em Sb 6,9, o autor mostra a solução aos governantes. Sua defesa é aprender a Sabedoria de Deus: "Estas minhas palavras são para vocês, soberanos, para que aprendam a Sabedoria e não venham a cair”. A Palavra de Deus não é apenas a manifestação da sua vontade, mas algo concreto: é a sua ação criadora (Gn 1,3); é o seu agir na história (1s 55,11); é a ação da Sabedoria na história da humanidade e do povo de Israel (10,1-19,22). Na tradição judaica, a Palavra de Deus se identifica com a ação da Sabedoria que conduz o ser humano “no caminho da justiça e nas vias do direito” (Pr 8,20).
Ou seja, a Sabedoria é a Palavra de Deus que propicia ao homem o caminho da felicidade e da vida com santidade e justiça. Pela Sabedoria, as autoridades políticas devem ser instruídas para governar o mundo: “Deus dos pais e Senhor de misericórdia, que tudo fizeste com tua palavra, e com tua Sabedoria preparaste o ser humano para dominar sobre as criaturas que fizeste existir, e para governar o mundo com santidade e justiça, e para realizar o julgamento com retidão de alma” (9,1-3). Sabedoria e política devem caminhar juntas, para garantir o exercício do poder que serve com justiça e amor (6,12-21). E a exortação para os governantes de todas as nações: “Quem observa santamente as coisas santas será santificado, e quem as aprende encontrará defesa” (6,10).
Observa santamente as coisas santas: quem observa e segue religiosamente a vontade (Torá) de Deus será reconhecido "santo” no julgamento (6,3). Quem as aprende encontrará defesa: esta frase pode ser traduzida da seguinte forma: “aqueles que nelas (a Sabedoria, vontade e Lei de Deus) se deixam instruir encontrarão quem os defenda”. Talvez a última seja destinada aos governantes não judeus, sobretudo para os da cidade de Alexandria.
No mundo egípcio, havia grande apreço pela Sabedoria, que se chamava Sophia em grego. Ela estava muito presente na religião e na filosofia grega (filo-sofia = amigo da sabedoria). A deusa Sophia era considerada como a responsável pela criação do mundo e sua organização. O autor do livro da Sabedoria não deixa dúvidas de que Sophia é o Espírito (Palavra e Lei) de Deus Javé que atua na criação e na história do universo.
Quer, no livro, levar os gentios ao conhecimento da verdadeira Sabedoria de Deus Javé e mostrar-lhes a superioridade da Sabedoria judaica sobre a deusa Sophia e a filosofia grega. Para exercer seu poder com justiça, os governantes de Alexandria devem ser instruídos pela Sabedoria de Javé: “Portanto, desejem e busquem minhas palavras, e vocês serão instruídos” (6,11). Ao contrário, eles continuam executando a política de exploração e exclusão dos pobres e serão investigados e condenados: "Os ímpios terão o castigo adequado aos seus pensamentos, já que desprezaram o justo e se afastaram do Senhor. Infeliz de quem despreza a Sabedoria e a educação. Sua esperança é vazia, seus esforços são inúteis e suas obras sem valor" (3,10-11).
5 - Iluminando a vida. Na tradição bíblica, o Deus libertador se alia aos que são explorados e marginalizados pela sociedade injusta (Ex 3,7-10). Os governantes, ministros de Deus na terra, devem priorizar os pobres e os pequenos, salvando-os diante da opressão e da injustiça. A Sabedoria é a Palavra de Deus que propicia ao ser humano o caminho da felicidade e da vida. Pela Sabedoria, as autoridades políticas devem ser instruídas para governar o mundo: “Deus dos pais e Senhor de misericórdia, que tudo fizeste com tua palavra, e com tua Sabedoria preparaste o ser humano para dominar sobre as criaturas que fizeste existir, e para governar o mundo com santidade e justiça, e para realizar o julgamento com retidão de alma” (9,1-3).
6 - Celebrando a vida. Nesse momento, queremos pedir pelos nossos governantes, para que reconheçam que o poder é dado por Deus e deve ser usado para a defesa e a promoção da vida. Pedimos também por nossas lideranças religiosas e por todos nós, para que sejamos sempre instrumentos de paz. Rezemos a oração pela Paz.
Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado. Compreender que ser compreendido. Amar que ser amado. Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado. E é morrendo que se vive para a vida eterna.
7 - Bênção final: Que Deus nos dê a sua bênção e a graça de exercermos o poder segundo a vontade Dele. Deus Pai e Mãe nos abençoe e conduza a nossa vida. Amém.