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18.7 - 7ª Aula 1Ts 5,12-22
18.7 - 7ª Aula 1Ts 5,12-22

 

 Curso Bíblico Online

"Esperança cristã e segunda vinda do Senhor"

Tessalonicenses 5,12-22

 

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Motivando a aula: Na aula anterior, refletimos sobre a necessidade de viver uma espera ativa, abrindo-nos para a vivência das virtudes que sustentam a vida da comunidade: a fé, o amor e a esperança.  Na aula de hoje, a última do nosso curso, vamos refletir sobre as recomendações de Paulo e seus companheiros para a vivência cotidiana da comunidade. Nosso desejo, com essa aula, é que nossas casas e comunidades sejam espaços de vida digna e solidária para todas as pessoas.

 

Situando o texto: No Império Romano havia mui­tas associações voluntárias, que garantiam alguma segu­rança para os seus associados, como identidade, festas, refeições comunitárias e uma divindade protetora, entre outras.

 

As associações atraem muitas pessoas, sobretudo imigrantes do Oriente Médio e das margens do Mediterrâneo, que vêm ou são forçados a trabalhar nas cidades do Império Romano. São pessoas destituídas de suas famílias, tribos, aldeias, cidades e terras. Mas o que atrai as pessoas? Como fun­ciona a associação voluntária?

Em geral, a associação pode ser classificada em tomo de determinado interesse ou objetivo: a) mesma família (parentesco) ou mesma localidade de origem; b) mesma profissão; c) devoção à mesma divindade. Porém, quase todas as associações têm sua divindade protetora. Por exemplo, a associação de mercadores romanos tem como patrono o deus romano Mercúrio. Ou os navegadores da cidade litorânea de Tiro, na Fenícia, em torno do antigo deus semita Melkart (Héracles, em grego).

 

Quanto à organização da associação, podemos des­tacar as seguintes atividades: a) Realizar uma cerimônia de iniciação; b) Organizar convívio, reuniões, festas, sobretudo refeições comunitárias; c) Celebrar o culto a algum deus ou deuses patronos para assegurar a proteção divina, muitas vezes com a oferenda de sacrifícios.

 

Tudo isso reforça o senso de identidade e solida­riedade entre os membros da associação, protegendo e promovendo a vida dos participantes, sobretudo dos trabalhadores menos favorecidos e, muitas vezes, des­prezados no mundo greco-romano. As inscrições atestam até as associações de funerários.

 

Em meio a esse ambiente social, Paulo se tornou itinerante e fundador de comunidades. E ele não fundou “entidades teológicas abstratas”, mas, sim, organizou as comunidades da vida real de homens e mulheres, sobre­tudo dos pobres menosprezados. Ou, como relata Paulo a respeito da condição de vida dos membros da comu­nidade de Corinto: “passamos fome e sede, estamos mal vestidos, somos maltratados, não temos morada certa, e nos cansamos trabalhando com as próprias mãos” (1 Cor 4,11-12a). Os pobres ou “lixo do mundo” constituíam a base social do movimento de Jesus que Paulo anunciava e promovia nos centros urbanos do Império Romano.

 

A condição de vida dos membros da comunidade cristã de Tessalônica, o centro urbano mais importante da Macedônia, não foge à regra. A maioria deles era de origem pagã (1,9) e pobres trabalhadores, que não podiam nem mesmo sustentar as atividades missionárias de Paulo e seus companheiros: “Pois vocês ainda se lembram, ir­mãos, de nosso trabalho e fadiga. Noite e dia trabalhando para não sermos de peso para nenhum de vocês, nós assim lhes proclamamos o evangelho de Deus” (2,9).

 

Paulo, um artesão, teve de trabalhar à noite para se manter. Trabalhava numa oficina de fabricantes de tendas, em um centro urbano muito movimentado, com uma rota comercial importante e um excelente porto, onde funcionavam as associações voluntárias dos artesãos, como as de fabricantes de tendas. Por isso, é compreensível que os pesquisadores afirmem que Paulo aproveitou e utilizou o ambiente e o espaço da associação para constituir a comunidade:

 

A oficina que ficou sendo o endereço de Paulo era a base estável de unia rede de contatos já organizada por seu empregador, por seus fregueses e companheiros de trabalho. Todos esses três grupos tinham suas famílias e amigos; entre eles haveria um contínuo intercâmbio, muito variado em diferentes níveis, e disso tudo Paulo tirou proveito (Jerome Murphy-O’Connor, p. 93).

 

Na Primeira Carta aos Tessalonicenses, Paulo exalta e relembra a seus convertidos a dignidade do trabalho manual: “Que seja para vocês uma questão de honra le­var vida tranquila, ocupando-se com as próprias coisas e trabalhando com as próprias mãos, conforme os instruí­mos. Desse modo, vocês levarão vida honrada aos olhos de fora, e vocês não precisarão de ninguém” (4,11-12).

 

No mundo greco-romano, o “trabalho manual”, em geral, era executado por escravos, o que permitiria afir­mar que a maioria dos convertidos cristãos de Tessalônica era escravo. Geralmente, nas grandes cidades do Império Romano, a vida dos escravos era muito dura e breve. Eles tinham de trabalhar doze horas por dia, sete dias da se­mana. A perspectiva de vida não passaria além dos vinte anos. De modo especial, os trabalhadores imigrantes nos centros urbanos sofriam mais ainda com o deslocamento e isolamento. Nessa vida de insegurança, as associações voluntárias davam aos membros a satisfação e a sensação de proteção: reuniões, festas, refeições comunitárias e, acima de tudo, a divindade protetora.

 

É bom relembrar que, em vista da sobrevivência, Paulo e seus companheiros entraram nesse mundo dos trabalhadores. Aproveitaram e transformaram, pouco a pouco, uma das associações em uma comunidade cristã. Ou eles mesmos fundaram a comunidade em sua realidade. A oficina de trabalho de Paulo, fabricante de tendas, tornou-se o endereço da missão: “trabalhando e anunciando o evangelho de Deus”.

 

É claro que há semelhanças entre a associação vo­luntária e a comunidade cristã: os participantes, como membros, eram voluntários; organizavam rituais de iniciações, reuniões, festas, celebrações, as refeições co­munitárias (ceias) etc. Mas também existe uma grande diferença: Paulo anuncia o evangelho de Jesus de Nazaré crucificado e ressuscitado como a divindade patrona da comunidade: “Felizes vocês, os pobres, porque de vocês é o Reino de Deus. Felizes vocês, que agora têm fome, porque serão saciados. Felizes vocês, que agora choram, porque hão de sorrir” (Lc 6,20-21). Um evangelho de libertação para os pobres!

 

O movimento de Jesus transforma os pobres traba­lhadores em sujeitos da história no mundo escravista! No mundo violento e opressor, no qual vivem os trabalhado­res nas cidades do Império Romano, a comunidade cristã, moldada pelo evangelho de Jesus, é a força e o espaço no qual eles conseguem recuperar a dignidade, a esperança e a vida. Na comunidade, cada pessoa é amada e respei­tada na irmandade: “Que o amor seja sem fingimento. Detestem o mal e apeguem-se ao bem. Amem-se uns aos outros com carinho de irmãos, cada um considerando os outros como mais dignos de estima” (Rm 12,9-10). Paulo prega e se esforça a favor da criação de um espaço, ou seja, uma associação para que todos, sobretudo os pobres, sejam acolhidos com dignidade, igualdade e fraternidade.

 

Evidentemente, nem sempre as mensagens de Paulo foram assumidas e vividas totalmente pelas comunidades. Nelas, havia comodismo, desunião, discórdias e conflitos: a discriminação por causa da etnia e classe, por exemplo. Mas, não se deve esquecer que houve o grande esforço de Paulo para manter o acompanhamento e orientação para as comunidades através de visitas e cartas.

 

É dentro dessa preocupação pastoral que Paulo en­viou Timóteo para verificar a situação da comunidade de Tessalônica, uma comunidade recém-fundada e persegui­da. No retorno, ele trouxe boas notícias: a comunidade mantinha a firmeza da fé. Mas trouxe também a preo­cupação, dúvida e problema da comunidade, sobretudo sobre a parusia do Senhor. A expectativa da parusia, por exemplo, incitava alguns a omitir-se dos fundamentos da comunidade. Em 1Ts 5,12-22, Paulo redige algumas exigências da vida comunitária, para que a comunidade seja uma associação fraterna e um espaço de vida e li­berdade para os pobres trabalhadores.

 

Nesse ambiente, Paulo fundou comunidades que fossem espaços de vida digna, especialmente para as pes­soas pobres. Na comunidade, algumas pessoas cruzaram os braços, acreditando que a vinda gloriosa de Cristo seria imediata, por isso Paulo fez diversas exortações para que a comunidade vivesse uma espera ativa, sendo espaço de fraternidade, solidariedade e comunhão. Um apelo para que as pessoas cristãs vivessem neste mundo como cidadãs do Reino de Deus.  

 

Quais as recomendações dadas por Paulo à co­munidade de Tessalônica? Quais os desafios enfrentados pelas lideranças de Tessalônica? Quais são as atitudes que atrapalham a vida da comunidade?

 

 

 

 

Iluminando a vida: Eis as orientações práticas para o dia a dia da co­munidade:

  • Consideração com as lideranças da comunidade (v. 12-13a): há algumas pessoas que exercem funções na liderança da comunidade, mas isso não é privilégio nem pode ser usado para explorar outras pessoas. Essa forma de liderar questiona o poder baseado na dominação de outrem. O serviço comunitário é para o bem comum e não em proveito próprio. A vivência do Evangelho implica um relacionamento de amor ao próximo. Ao fundar comunidades, Paulo tinha como estra­tégia formar e organizar um núcleo de pessoas na liderança (5,12). Paulo pede que a comunidade reconheça e considere o trabalho de seus líderes.

 

  • “Vivam em paz uns com os outros...” (v. 13b-14): trata-se de uma resistência contra a pax romana. Trabalhar com as próprias mãos; ajudar os pobres. Pode ser também um alerta contra a espera passiva, ou seja, uma chamada de atenção contra aqueles que estavam deixando de traba­lhar, na certeza de que a vinda do Senhor seria imediata, ou mesmo uma advertência contra alguns "ricos” (cf. ICor 1,26-31).

 

O que caracteriza a comunidade que segue Jesus Cristo é o compromisso com os pobres. Ao fazer a sua exortação, Paulo cita três grupos: os que não fazem nada, os desencorajados e os fracos:

 

  1. Os que não fazem nada: os ataktoi, termo grego que só aparece aqui no Novo Testamento. Na Segunda Carta aos Tessalonicenses, aparecem termos com a mesma raiz: “Pois ouvimos dizer que alguns dentre vocês vivem à toa: não fazem nada, mas se metem em tudo” (2Ts 3,11; cf. 2Ts 3,6.8). Mesmo não sendo de Paulo, o texto revela um problema da comunidade. Quando usado para pessoa, o termo ataktoi se refere a alguém indisciplinado e insubordinado. Essa maneira de agir pode resultar em corpo mole ou mesmo em não querer cooperar com outras pessoas. E bem provável que alguns não quisessem mais traba­lhar aguardando a vinda do Senhor; ou ainda, o relaxamento moral: uniões ilegítimas, desrespeito com o próprio corpo e o corpo dos outros (cf. 4,3-5).

 

  1. Animem os desencorajados: um dos motivos da descrença de alguns devia ser a morte dos que acreditaram em Jesus Cristo (4,13-18). Há muitas passagens no Antigo Testamento que exortam o grupo a manter viva a esperança das pessoas que estão fraquejando na caminhada, por exemplo: "Digam aos corações desanimados: sejam fortes. Não tenham medo!” (Is 35,4; cf. 57,15). Ou ainda: “O Senhor já me deu língua de discípulo, para que eu saiba ajudar o desanimado com uma palavra de coragem” (Is 50,4). Eis um grande desafio para a vivência em comunidade.

 

    2. Ajudem os fracos: em 1Cor 8,7-14, Paulo usa esse termo para designar os cristãos de fé insuficiente e que ainda se escandalizam com os que comem comida sacrificada aos ídolos. E necessário que a comunidade exorte, encoraje e ajude os fracos, para que possam praticar em sua vida concreta as exigências de sua fé em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado.

 

Finalizando as exortações, Paulo pede que os fi­éis de Tessalônica sejam pacientes com todos. É preciso cuidar para não “retribuir o mal com o mal” (5,15). En­sinamento ético que já estava presente na ética judaica e se intensificou no movimento de Jesus: "Nunca diga: ‘Vou retribuir o mal que me fizeram'. Espere em Javé e ele o salvará”(Pr 20,22); "Não retribuam a ninguém o mal com o mal. Procurem o que é nobre diante de todos” (Rm 12,17; cf. Mt 5,38-39; 7,12; Lc 6,27-28; 1 Pd 3,9). Não vivam na teologia da retribuição, mas, sim, vivam na teologia da gratuidade, experimentada e manifestada na vida de Jesus de Nazaré.

 

Alguns membros da comunidade podiam estar agin­do de maneira contrária aos princípios da fé assumida. Parece que a comunidade estava no limite. Nesse clima, as palavras de Paulo deviam acalmar os ânimos dos mais exaltados. Em um grupo, é muito difícil manter-se em paz! E, mais ainda, ser paciente com todos. As exortações de Paulo são difíceis e, muitas vezes, nós não somos pacientes, mas sim indiferentes, o que é contrário ao projeto de Deus.

 

No capítulo 5,16-22, há uma série de frases, no modo imperativo, começando com a exortação à alegria:

 

  • “Estejam sempre alegres. Rezem sem cessar” (5,16). A alegria é própria das pessoas que vivem a certeza do tempo da salvação (cf. Fl 4,4-7).

 

  • "Deem graças por tudo” (5,17). Quando damos graças a Deus reunimos os motivos que dão sen­tido à nossa vida (1,2-3).

 

  • “Não apaguem o Espírito”. Deixar que o Espírito anime e fortaleça a caminhada cotidiana da co­munidade (cf. 1Cor 12,1-30).

 

  • “Não desprezem as profecias” (5,20). Manter viva a Palavra dita pelos missionários e acreditar na certeza de que o novo Reino chegará para todos (cf. 1Cor 14,4).

 

  • “Examinem tudo e fiquem com o que é bom” (5,21). Não dar ouvidos a outras filosofias ou propostas de vida (cf. 1Cor 12-14)!

 

  • “Estejam longe de qualquer tipo de mal” (5,22). A comunidade deve exercer o discernimento e o espírito crítico para praticar o bem - viver a santidade - e evitar o mal - impureza (4,1-12).

 

Essas exortações foram dirigidas à comunidade de Tessalônica e devem ser vividas por todas as comunida­des que seguem Jesus. Trata-se de uma ética pautada no respeito e no direito de cada pessoa. O Papa Francisco insiste na importância de uma renovação pastoral para assumir o ser uma igreja em saída: pobre com os pobres. Revisitando a comunidade de Tessalôni­ca, queremos reacender o nosso espírito de discípulos e discípulas em nós e em nossas comunidades. Quais as exortações que Paulo faria para a nossa comunidade? Quem são as pessoas que precisam de cuidados especiais em nossas comunidades? Quais as características que as nossas comuni­dades devem assumir para serem missionárias? O que devemos fazer para despertar novas lide­ranças?

 

 Nosso desejo é que nossas casas e comunidades sejam espaços de vida digna e solidária para todas as pessoas.

 

Benção: O Deus da paz vos santifique completamente. Vos conserve íntegras em espírito, alma e corpo, e irrepreensíveis para quando vier o Senhor Jesus Cristo. A graça do Senhor Jesus Cristo esteja convosco (1Ts 5,23ss). Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém