"Jesus então disse à mulher: 'Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica livre da tua doença" (Me 5,34).
Embora meu nome não apareça nos relatos bíblicos, eu me chamo Séfora e moro em Tiberíades com minha criada, uma senhora idosa. Sou morena e tenho 40 anos. Ao contrário da maioria das palestinas, sei ler e escrever muito bem, e alguns dizem que sou bonita.
Meu drama teve início um ano após meu casamento; na ocasião, apareceram sintomas de uma doença muito estranha, que me deixou enferma por doze longos anos. Nesse período, não conseguia engravidar e a menstruação atrasava muito. De acordo com a lei do puro e do impuro, no período menstrual, a mulher fica impura; por isso, não pode tocar em nada nem ser toca da por ninguém, senão este também é considerado desse modo. Vocês podem saber mais sobre essa lei no livro do Levítico (cf. Lv 15,1-33). Por causa da enfermidade, comecei a ter problemas em meu matrimônio.
Graças a Deus, Caleb, meu marido, era muito compreensivo e procurou os melhores médicos. Como éramos ricos, ele não poupou recursos financeiros em busca de minha cura: na ocasião, fez vir médicos até de Chipre para me consultar. Porém, nenhum deles conseguiu me curar; aliás, piorei. Passei a ter hemorragias constantes, dores e fraqueza.
Assim se passaram três anos. Foi então que Jairo, o chefe da sinagoga de Cafarnaum, aconselhou meu marido a divorciar-se de mim. Embora não aceitasse isso, não havia alternativa. Atualmente, consigo reconhecer que, apesar de tudo, ele agiu de acordo com a lei. No entanto, por muito tempo, guardei uma grande mágoa dele.
Quando soube de meu divórcio, minha família me rejeitou. Após deixar Cafarnaum, passei a morar em Tiberíades, por ser uma cidade repleta de templos pagãos. Aqui, como os judeus são minoria, eu corria menos riscos de ser rejeitada.
Em busca da cura, gastei todo o dinheiro que me restava com médicos e remédios. Quando acabaram meus recursos, fui obrigada a trabalhar para sobreviver. Então consegui um emprego em uma estalagem, onde minha doença não se tornou um empecilho para tocar nas pessoas e nos objetos.
Um dia, Simão, um fornecedor de trigo, chegou à estalagem. Como sabia que antes ele fora leproso, fiquei muito impressionada com sua cura quase impossível e perguntei-lhe o que havia ocorrido. Nesse momento, ele me falou sobre Jesus. Nos últimos tempos, com frequência, ouvíamos falar de Jesus, de suas pregações e dos milagres. No mesmo instante, meu coração ficou aquecido. Após tanto tempo, voltei a sentir esperança. Resolvida, disse a Micol, minha criada:
- Vamos procurar Jesus!
- Mas como? Nem sabemos por onde ele anda! Provavelmente, nunca passará por aqui - ela respondeu.
Simão interveio:
- Ele está em Cafarnaum. Se quiserem, eu posso levá-las, pois estou indo para lá!
Era um convite e tanto. Na manhã seguinte, bem cedo, dirigimo-nos até Cafarnaum, onde ficamos em uma hospedaria. No outro dia, rumamos até a margem do lago onde Jesus costumava ficar. Para não ser reconhecida, cobri meu rosto com um véu. Algum tempo depois, ele chegou de barco. Nessa hora, a multidão o cercou, e todos queriam tocá-lo. Pensei: "Meu Deus, como vou fazer para me aproximar? Eu não posso revelar minha identidade. Se me descobrirem no meio do povo, além de não ser curada, serei castigada por infringir a lei".
Aproximei-me um pouco. Em um relance, vi que a roupa de Jesus era adornada com franjas. Então, falei a Micol:
Se tocar pelo menos a franja de sua roupa, eu serei curada.
- Aproxime-se sorrateiramente - ela me disse. - Ninguém vai ver!
Após cobrir meu rosto, misturei-me à multidão e me aproximei com dificuldade. Porém, quando estava a poucos metros dele, vi Jairo, o chefe da sinagoga. Nesse instante, meu coração tremeu. Se me descobrisse ali, não sabia o que poderia acontecer comigo. No entanto, percebi que estava chorando e mal conseguia falar. Ele se ajoelhou e implorou que o Mestre fosse até sua casa, pois a filha de 12 anos estava às portas da morte. Naquele momento, lembrei-me de que a menina nascera no mesmo dia da descoberta de minha enfermidade.
Na ocasião, Jairo estava em minha casa, com meu marido e o médico. Diante de meu sofrimento, ele se comportou de modo frio, dizendo que a lei precisava ser cumprida. Então chegaram algumas pessoas com a notícia do nascimento da sua filha. Não deixava de ser irônico que, enquanto eu recebia uma sentença de morte, Jairo era informado do nascimento da menina.
Ao saber que sua filha estava à beira da morte, senti muita pena dele. Por mais que ele tivesse me magoado, não lhe desejava nenhum mal. Quando Jesus disse que acompanharia Jairo, eu pensei: "É aqora!" Aproximei-me com cuidado, para que não percebesse, abaixei-me e toquei na franja de sua túnica. Subitamente, senti o poder de Deus entrar em meu ventre e uma força que fazia meu corpo formigar. É impossível descrever a grande paz que se apossou de mim naquele momento. Porém, tudo ficou em silêncio.
Embora estivesse um pouco distante de mim, ouvi Jesus perguntar com voz forte:
- Quem me tocou?
Eu pensei: "Meu Deus, ele descobriu!': Temerosa, fiquei em silêncio, agachada no meio do povo. Então, ele parou diante de mim. Trêmula de emoção, não consegui mais me esconder; lancei-me a seus pés, chorando, e contei-lhe tudo. Imediatamente, o povo se escandalizou, porque Jesus havia tocado uma mulher impura. Entretanto, ele não se importou com os comentários. E eu, que por doze anos não pude tocar em ninguém, havia sido curada por um simples toque dele.
Como chefe da sinagoga, Jairo poderia repreender Jesus. Mas, ao perceber que era eu a mulher, ficou ao mesmo tempo admirado e feliz. Isso me fez muito bem. Nessa hora, desapareceu toda mágoa que eu sentia em relação a ele. Então, Jesus olhou-me fixamente e disse:
- Minha filha, sua fé a salvou! Vá em paz e fique curada do seu mal!
Aquele foi o momento mais feliz de minha vida. As palavras de Jesus ficaram gravadas em meu coração para sempre. Porém, logo chegaram algumas pessoas vindas da casa de Jairo, informando-lhe do falecimento da filha. Abalado, ele se apoiou em Jesus para não cair.
Mas Jesus disse a Jairo:
- Não tema! Creia somente!
A força dessas palavras foi tão intensa, que Jairo se acalmou. Seu conteúdo também fortaleceu ainda mais minha fé. Assim, Jesus pegou as mãos do chefe da sinagoga e as colocou sobre as minhas. Jairo se emocionou, assim como eu. Foi algo importante para mim. De coração, eu disse:
- Jairo, ouça o que Jesus está dizendo. Não tema! Creia somente.
Ele apertou minhas mãos, em sinal de agradecimento. Ao ver esse gesto, Jesus se alegrou. Em seguida, chamou três discípulos, e todos foram à casa de Jairo. Instantes depois, reencontrei Micol, que acompanhava tudo, e nos abraçamos chorando. Foi como se o sol voltasse a brilhar em minha vida.
Depois disso, procurei minha família e fui recebida com festa. Infelizmente, soube que meu pai havia falecido um ano depois de minha expulsão. No dia seguinte, corri à sinagoga para me apresentar a Jairo e fazer o ritual de purificação. Ele era outra pessoa; radiante e emocionado, não cessava de lembrar a ação de Jesus em sua vida e dizia que o Salvador havia chegado. Em seguida, concedeu-me o atestado de purificação. Daquele momento em diante, meus laços de amizade com sua família ficaram mais estreitos.
Posteriormente, soube que meu ex-marido não se casara de novo, mas tinha se mudado para Jerusalém. O próprio Jairo enviou mensageiros até ele, para informá-la de minha cura. Até agora, aguardo algum sinal dele.
Ao fazer um balanço de tudo o que passei, aprendi como é importante acolher as pessoas, sem discriminação. Ao curar-me, Jesus devolveu-me muito mais que a saúde física. Se não tivesse ficado doente por doze anos, jamais saberia a importância de um simples toque. Após padecer todo aquele tempo, fui recompensada com um toque de Deus!
Neste instante, estou em Tiberíades, para buscar meus poucos pertences, pagar as dívidas, despedir-me dos amigos da estalagem e falar com eles sobre Jesus. Quem teve um encontro tão especial com ele, como eu, não consegue guardar essa imagem somente para si mesmo. Ainda hoje voltarei a Cafarnaum, pois sei que uma nova vida vai começar!