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7- RUBENS, O ZELOTA
7- RUBENS, O ZELOTA

"O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa-Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos, e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça da parte do Senhor" (Lc 4,18).

Meu nome é Rubens, sou simpatizante do partido dos zelotas (cf. Lc 6,15) e também adepto do movimento de Jesus. Como principal característica, esse partido era integrado por pessoas que pertenciam à classe dos pequenos camponeses e das camadas mais pobres da sociedade, massacrados por um sistema fiscal impiedoso. Religiosos e nacionalistas, eram opositores ferrenhos do governo de Herodes na Galiléia e desejavam expulsar os dominadores romanos. Seu principal sonho era restaurar um Estado onde Deus fosse o único rei, representado por um descendente de Davi (messianismo). Para atingir os objetivos, muitas vezes partiam para a luta armada; por isso, eram perseguidos como criminosos e terroristas pelas autoridades romanas e pelo exército.

Na ocasião, havia quase setenta anos que nosso país era colônia do Império Romano. O povo estava desesperado por causa da dominação, pela fome e pelos pesados impostos que nos obrigavam a pagar. Por isso, eu particularmente, assim como meus familiares e amigos, olhávamos com simpatia esse movimento que conspirava contra o poder romano e tinha suas guerrilhas espalhadas pelo país. Era uma organização bem estruturada, sobretudo em nossa província, a Galiléia. Quanto a mim, era integrante de um pequeno grupo de apoio em Cafarnaum.

Em nossa região, bem como no restante de Israel, a família, o clã ou a comunidade eram a base da convivência social. Isso consistia na proteção das famílias e das pessoas, na garantia da posse da terra, no veículo principal da tradição e na defesa da identidade do povo. Proteger o clã era o mesmo que defender a aliança com Deus.

Na Galiléia do tempo de Jesus, uma dupla escravidão marcava nossas vidas e contribuía para a desintegração do clã: o cativeiro imposto pela política do governo de Herodes Antipas e da religião oficial.

Pelo sistema de exploração e repressão da política de Herodes Antipas, apoiada pelo Império Romano, muitas pessoas eram excluídas e não tinham emprego. Em consequência, o clã ficou enfraquecido. Então muitas famílias se viram desamparadas, sem defesa. Por sua vez, em vez de fortalecer a comunidade, para que pudesse acolher os excluídos, a religião oficial reforçava ainda mais esse cativeiro. A lei de Deus era usada para legitimar a exclusão de muitas pessoas, como, por exemplo, mulheres, crianças, estrangeiros, leprosos, possessos, publicanos, doentes, deficientes físicos. Era o contrário da fraternidade que ele sonhou para todos! Assim, tanto a conjuntura política e econômica como a ideologia religiosa conspiravam para enfraquecer a comunidade local e impedir a manifestação do Reino de Deus.

Nesse contexto, a fama de Jesus crescia e se espalhava por todos os lados. A experiência que tinha de Deus como Pai amoroso lhe proporcionava um novo modo de avaliar a realidade e perceber o que estava errado na vida do povo.

Certo dia, ele e seus discípulos chegaram a Nazaré, cidade onde tínhamos sido criados. Ele estava de volta à comunidade da qual havia feito parte desde pequeno. No sábado, de acordo com o costume de qualquer israelita adulto, ele foi à sinagoga para participar da celebração. Na ocasião, eram realizadas orações e leituras seguidas de comentários, em geral dos livros da Lei (Pentateuco) e dos Profetas. Os leitores eram, em sua maioria, membros instruídos da própria comunidade ou visitantes que conheciam bem as Escrituras.

Eu estava sentando nos últimos lugares, quando vi Jesus receber o livro das mãos do rabi; com a maior naturalidade, leu as passagens do profeta Isaías que se referiam aos pobres, presos, cegos e oprimidos (Is 35,5; 61,1-2). Esses textos eram um espelho perfeito que refletia a situação do povo da Galiléia. Em nome de Deus, Jesus se posicionava na defesa da vida de nosso povo, que também era seu. Com as palavras de Isaías, ele definiu sua missão: anunciar a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação aos presos, restituir a visão aos cegos, restabelecer a liberdade aos oprimidos. Ao retomar a antiga tradição dos profetas, ele proclamou "um ano de graça da parte do Senhor", ou seja, o ano do jubileu!

Diante dos presentes na sinagoga, Jesus deixou bem claro que os destinatários do anúncio do Evangelho eram os pobres, os mendigos, os desamparados, os excluídos da sociedade, ou seja, o povo empobrecido e enfraquecido pela ambição dos governantes.

O limite extremo dessa condição era a marginalização. Havia muito tempo, o povo estava privado da liberdade e da capacidade de enxergar a realidade de forma crítica; além disso, vivia continuamente pressionado por dentro e por fora, e cada vez mais ia perdendo a vida e o acesso aos bens para sustentá-la. Naquela ocasião, percebi que ele transmitiu uma palavra de esperança aos oprimidos e, ao mesmo tempo, realizou a ação que os libertaria concretamente da situação de marginalidade.

Curiosamente, ele não anunciou o dia da vingança, como está em Isaías, pois a ira não era da índole de seu Deus, mas falou do "ano da graça", uma referência ao ano do jubileu, celebrado em Israel a cada cinquenta anos (cf. Lv 25,11-12). Sua finalidade era incentivar uma vida nova a todos aqueles que, por um ou outro motivo, se endividaram, a ponto de perder desde a propriedade familiar até a própria liberdade. Nesse "ano de trégua", todos podiam recuperar os direitos perdidos e recomeçar sua vida. Com isso, Jesus quis dizer, em tom claro e bem forte, que somente Deus Pai é rei sobre Israel e que, portanto, ninguém tem o poder de reinar sobre os demais.

Ao terminar a leitura, Jesus enrolou o livro e o entregou ao servente. Em seguida, sentou-se sem nenhuma cerimônia e disse a todos os presentes que, naquele dia, estava se cumprindo a passagem da Escritura que eles haviam acabado de ouvir (cf. Lc 4,21). Com isso, ele selou sua palavra e ação como cumprimento da Escritura. Aquele momento se referia ao instante em que ele não só estava lendo, mas também realizando o que fora anunciado pelo profeta. Muitos ficaram escandalizados, olhavam-no atentos e espantados com o teor de suas palavras; por isso, não quiseram mais ouvi-lo.

Mas por que agiram daquele modo? É que Jesus havia proposto a acolhida aos pobres, aos cegos, aos oprimidos. Mas eles não aceitaram sua oferta. Assim, no momento que apresentou seu plano de acolher os marginalizados, ele mesmo foi excluído (e, pior, pelo próprio povo). Vale mencionar que nenhum profeta é aceito na própria pátria.

Para ajudar a comunidade a superar o escândalo, Jesus usou os exemplos de Elias e de Eliseu, que todos conheciam bem. Nas narrativas, era criticada a intolerância do povo de Nazaré; por esse motivo, Elias foi enviado para auxiliar a viúva estrangeira de Sarepta (cf. 1Rs 17,8-16) e Eliseu, para atender o estrangeiro da Síria (cf. 2Rs 5,11-14).

O apelo de Jesus não adiantou nada. Ao contrário! O uso das duas passagens das Escrituras provocou mais raiva ainda. Com isso, o povo ficou furioso e o expulsou da cidade, conduzindo-o até o cimo de uma colina (sobre a qual a cidade estava construída), com a intenção de precipitá-lo de lá. Mas Jesus manteve a calma. A raiva dos outros não conseguiu desviá-lo de seu caminho.