1-Acolhida: Olá, povo santo de Deus, tudo bem com vocês? Esta é a nossa penúltima aula. Ah, que pena! É verdade que o tempo passou rápido, mas pensem em todo o conhecimento que vocês adquiriram e nas oportunidades de aplicá-lo. Vamos aproveitar ao máximo essas últimas aulas e fazer com que sejam memoráveis! Então, mãos à obra, porque o tema de hoje é muito interessante e reconfortante. É inspirador saber da insistência do autor da carta em mostrar aos membros da sua comunidade que a vida cristã deve ser manifestada no amor solidário. Na certeza de que Deus nos ama e que amar é condição para vivermos a filiação divina, coloquemo-nos em sua presença fazendo a nossa oração inicial, e se precisarem de ajuda para revisar algum conteúdo ou esclarecer dúvidas, estou aqui para apoiar vocês. 😊
Oração para o Início da Aula
Senhor Deus, Pai amoroso e misericordioso, Agradecemos por esta oportunidade de nos reunirmos para estudar a Tua Palavra. Que o Espírito Santo nos ilumine, guiando nossos corações e mentes, Para que possamos compreender a profundidade das lições contidas na Primeira Carta de João.
Que possamos, através deste estudo, fortalecer nossa fé e nosso compromisso contigo, Vivendo o amor fraternal que Jesus nos ensinou. Que cada palavra, cada reflexão, toque nossos corações e nos transforme, Fazendo-nos instrumentos de paz e amor em nossas comunidades.
Senhor, abençoa todos os participantes
2-Motivando a aula de hoje: Geraldo é um senhor de 90 anos e caminha com a ajuda de um andador. Ele mora a sete quilômetros da Barragem de Brumadinho. Há quase dois anos, ele recebe o almoço de Vera Souza Araújo Vilaça de 64 anos, que mora a cerca de 500 metros, numa região mais baixa. Ela estava chegando com o almoço quando um rapaz, o arrendatário da terra de Geraldo, chegou avisando que a barragem tinha se rompido e que ele estava ali para levá-lo para um lugar alto.
Vera e o marido, também chamado Geraldo, nunca tinham visto a barragem da Vale, localizada a sete quilômetros dali. Vera se virou para avistar sua casa ao longe, onde estavam seu marido, que a esperava para o almoço, e seu irmão, que tirava um cochilo. Sem hesitar, ela desceu correndo para salvar sua família, enfrentando o risco de ser tragada pela lama. Vera conseguiu chegar antes da avalanche. Aos berros acordou o irmão, Manuel Souza Araújo, de 57 anos, que dormia no rancho.
Depois, entrou correndo em casa avisando o marido, Geraldo, de 70 anos. Vera e Geraldo conseguiram se salvar, cada um em um ponto alto diferente. De onde estavam, viram a enxurrada da barragem levar tudo o que construíram ao longo de toda a vida. Depois que a lama atravessou o Parque da Cachoeira, Geraldo caminhou até o topo da ladeira onde eestava a esposa. "Nascemos de novo. Nós dois nascemos de novo", diz Vera. Seu irmão, Manuel, está na lista dos desaparecidos e com profunda dor, ela afirma: "Apesar de ter perdido tudo, eu seria uma Pessoa completa se tivesse conseguido salvar meu irmão.
A destruição provocada pelo rompimento da Barragem Mina de Feijão, em Brumadinho, no dia 25/01/2019 é imensa, cerca de 270 hectares foram devastados, entre mortos e desaparecidos são cerca de 332 vítimas. No Brasil, 3,5 milhões de pessoas vivem em cidades com barragens em situação de risco. Diante dessa realidade, como nos sentimos e nos posicionamos?
3- Situando o texto de 1 Jo 3,11-24 que iremos estudar hoje: A população de Éfeso era majoritariamente composta por escravos, que sofriam exploração, violência e humilhação. O sistema de patronato ou clientelismo, presente em todas as camadas da sociedade romana, envolvia relações de troca onde pessoas de estrato superior beneficiavam as de estrato inferior, criando dependência dos beneficiados em relação aos patronos. As comunidades joaninas, seguindo os ensinamentos de Jesus, se opunham a esse sistema, promovendo solidariedade e lutando pela dignidade e liberdade dos pobres e escravizados. Contudo, essa oposição resultava em perseguições. A comunidade cristã, inspirada pelo amor ao próximo pregado por Jesus, enfrentava desafios internos. Embora pregassem a igualdade e auxiliassem os necessitados, alguns membros poderosos discriminavam e oprimiam os pobres. O autor da primeira carta de João condena essas práticas e reforça o princípio do amor ao próximo. Em suma, enquanto a sociedade romana era dominada pelo patronato, as comunidades cristãs buscavam viver de maneira solidária, enfrentando tanto perseguições externas quanto conflitos internos.
4 — Leitura do texto: Abra a sua Bíblia e leia 1Jo 3,11-24. Após ler, fique em silêncio e procure repetir, ou anotar frases, ou expressões que mais chamaram a atenção e só depois disso, responda as seguintes perguntas:
1 - Qual é o mandamento de Deus e como deve ser vivenciado na comunidade?
2 — Como se manifesta o amor de Deus por nós?
3 — Quais as consequências de não amar o irmão?
5- Comentando o texto: O autor inicia a nova seção da carta, que é paralela a 1 Jo 2,3-11 (tema: o mandamento do amor fraterno), com o princípio fundamental da ação cristã: "Porque esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros" (3,11). O mandamento do amor ao próximo, vivido e transmitido por Cristo Jesus, o Messias encarnado, se opõe à prática de patronato e de clientelismo. Estas práticas mantêm os pobres na pobreza e na dependência, beneficiando os poderosos, que agem motivados pela busca desenfreada de bens, poder, prazer e honra do mundo do Maligno (cf. 2,12-17).
Para sublinhar a oposição entre o amor e o ódio, a história de Caim e Abel é lembrada (Gn 4,1-8): "Não façam como Caim, que pertencia ao Maligno e assassinou seu irmão. E por que o assassinou? Porque suas obras eram más, e as do seu irmão eram justas" (3, 12). O amor fraterno e o ódio homicida! Quanto mais o amor fraterno do Messias encarnado for acolhido e vivido, mais será combatido o mundo do Maligno. Isso pode gerar ódio e inimizade, pois a vida segundo os desejos e a ganância do Maligno é irreconciliável com a prática cristã. Daí a perseguição: "E não fiquem espantados, irmãos, se o mundo odeia vocês" (3,13).
A perseguição contra os cristãos é frequentemente relatada pela comunidade joanina: "Se o mundo odeia vocês, saibam que primeiro odiou a mim. Se vocês fossem do mundo, o mundo amaria o que é dele. Mas porque vocês não são do mundo, pois eu os escolhi e os separei do mundo, por isso o mundo os odeia" (Jo 15,18-19). Há uma oposição entre Jesus Cristo e o mundo, o amor eterno e o ódio ganancioso. A sociedade escravista do mundo greco-romano e seus promotores não podem aceitar o testemunho da comunidade seguidora de Jesus, o "servo de Deus" (cf. Is 42,1-9).
A oposição entre Jesus Cristo (amar) e o mundo (odiar) — antes acompanhada pela oposição "estar na luz" e "estar nas trevas": "Deus é luz, e nele não há trevas" (1,5); "Quem diz que está na luz, mas odeia seu irmão, está na escuridão até agora. Quem ama seu irmão permanece na luz, e nele não há ocasião de tropeço" (2,9-10) — agora é acompanhada pela oposição entre "vida" e "morte": "Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos aos irmãos. Quem não ama permanece na morte" (3,14). O amor gera "vida" e o ódio, com ganância e egoísmo, produz "morte"!
Ao descrever a antítese entre a vida e a morte, o autor insinua a gravidade dos desentendimentos e conflitos na comunidade. O conflito provocado pelos anticristos atinge seu auge quando o autor os acusa de ato homicida: "Todo aquele que odeia seu irmão é homicida, e vocês sabem que nenhum homicida tem a vida eterna dentro de si" (3,15). O termo "homicida", utilizado apenas três vezes no Novo Testamento, aparece duas vezes na primeira carta de João (3,15) e uma vez no evangelho: "O pai de vocês é o diabo, e vocês querem realizar os desejos do pai de vocês. Ele era assassino (homicida) desde o princípio, e não esteve do lado da verdade, porque nele não existe verdade" (Jo 8,44a).
Em Jo 8,31-59, os opositores de Jesus, que julgavam ter a verdade, queriam matar Jesus por sua prática libertadora, que rompe com a ordem injusta dos poderosos. Após ter acusado os anticristos de rejeitar Jesus e de viver o projeto do mundo (cf. 2,12-28), o autor da primeira carta de João afirma que quem odeia o irmão é "homicida", porque o ódio está no princípio do pensamento e da ação do mundo do Maligno, que provoca preconceito, discriminação, exploração, opressão e morte.
Ao contrário, o amor ao próximo está no princípio do sentimento, do pensamento e da ação do Deus da vida e de seu Filho Jesus Cristo, que produz a liberdade, a vida nova e a vida eterna dos irmãos: "E nisto conhecemos o amor: Jesus entregou sua vida por nós; portanto, também nós devemos entregar a vida pelos irmãos" (3,16). Jesus, que deu testemunho do amor ao próximo até o fim, encoraja e liberta as pessoas do medo da morte, provocada pelo poder dos opressores.
Em outras palavras, é acreditar na força do amor de Deus diante do poder do mundo do Maligno: "A palavra de Deus permanece em vocês, e vocês estão vencendo o Maligno. Não amem o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele" (2,14-15); "Neste mundo vocês terão aflições, mas tenham coragem: eu venci o mundo" (Jo 16,33). A vida cristã sustenta-se na fé absoluta em Deus e na prática do seu amor!
Depois de apresentar a morte de Jesus como o amor ao próximo até o fim, o autor da primeira carta de João questiona a prática do amor e da solidariedade no cotidiano da comunidade: "Como pode o amor de Deus permanecer em quem possui os bens deste mundo, se vê seu irmão em necessidade e fecha o coração?" (3,17). O amor fraterno deve se mostrar concreto mediante o testemunho cotidiano: "Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade" (3,18).
Em seguida, o autor faz uma longa exortação para a comunidade, em torno de nosso "coração" diante de Deus: "Nisto saberemos que somos da verdade, e tranquilizaremos nosso coração diante de Deus. Porque, se nosso coração nos condenar, Deus é maior que nosso coração e conhece todas as coisas. Amados, se nosso coração não nos condena, temos confiança diante de Deus, e recebemos tudo o que pedimos, porque obedecemos aos seus mandamentos e fazemos o que lhe agrada" (3,19-22).
Na Bíblia, o termo "coração" é frequentemente usado como símbolo do centro de tomada de decisões e da consciência. Por exemplo, o Salmo 32:3-4 diz: "Quando guardei silêncio, meus ossos se consumiram, gemendo o dia todo, pois dia e noite pesava sobre mim a tua mão; minha seiva (coração) se transformou em mormaço de verão." Em Romanos 9:1-2, Paulo escreve: "Em Cristo, digo a verdade, não minto, e disso minha consciência me dá testemunho no Espírito Santo: é grande a minha tristeza e contínua a dor em meu coração."
Tomar decisões (coração) é uma parte integral da existência humana e da ação cristã. Como mencionado em 1 João 3:18: "Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e na verdade." Quando confrontamos nosso coração diante de Deus, a comunidade cristã deve assumir e praticar o mandamento principal de Jesus: "E este é o seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, conforme o mandamento que ele nos deu" (1 João 3:23; cf. João 15:12-13).
Diante da antítese entre Deus e o Maligno, luz e trevas, Jesus e o mundo, amar e odiar, vida e morte, o cristão e a comunidade cristã devem tomar a decisão de produzir uma nova e eterna vida, seja prestando assistência imediata a quem precisa, seja expressando solidariedade e amor também por meio de suas opções políticas. Decidir pela vida significa, sobretudo, permanecer em Deus: "Quem guarda os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus nele. Nisso percebemos que Deus permanece em nós: pelo Espírito que ele nos deu" (1 João 3:24).
O termo "permanecer" é parte fundamental do vocabulário da literatura joanina, aparecendo diversas vezes no Evangelho de João, como em 15:4a: "Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês," e em 15:9: "Da mesma forma que meu Pai me amou, eu também amei a vocês: permaneçam no meu amor." Em João 15, o verbo "permanecer" aparece 11 vezes, evidenciando a gravidade da crise da comunidade, que sofria perseguição dos poderosos do mundo e o grande número de desistências entre os membros.
Uma década mais tarde, a comunidade da primeira carta de João enfrentava uma crise provocada pelos anticristos: desintegração, conflito, desprezo, humilhação e opressão contra os pobres. É necessário caminhar com Jesus Cristo encarnado, observando o mandamento do amor e criando uma rede de solidariedade concreta numa sociedade marcada pelo Maligno. Esse é o dever cristão!
Na caminhada cristã, o autor reafirma a presença do Espírito: "Deus permanece em nós: pelo Espírito que ele nos deu" (1 João 3:24b). O dom do Espírito mantém viva a memória de Jesus, ensina e renova seu ensinamento de ontem e de hoje. Queira Deus que os cristãos, ungidos pelo Espírito Santo, saibam discernir e encarnar Jesus Cristo em suas práticas concretas em favor dos irmãos.
Nossa, que aula enriquecedora, não é mesmo? Uma aula que explorou como o amor pode reviver nossas vidas, especialmente sendo a penúltima, deve ter trazido muitas reflexões e emoções. Fiquei tocado pela ideia de que o amor pode renovar nossas esperanças e nos dar forças para enfrentar desafios. E para voê, o que mais te tocou?
Compartilhar nossas experiências e impressões faz parte fundamental do nosso aprendizado, além de enriquecer significativamente a discussão.
1- O que você mais apreciou na aula?
2- Está disposto a estudar outros temas?
3- Qual tema você gostaria de ver abordado em futuras aulas?
4- Que tal compartilhar com os demais colegas suas descobertas e impressões sobre a aula de hoje?