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5.3- LEITURA ORANTE DE MATEUS 9,36-10,1-8
5.3- LEITURA ORANTE DE MATEUS 9,36-10,1-8

 1º PASSO. Procure um lugar sossegado, agradável e acomode-se. Com os olhos fechados coloque-se na presença de Deus, dando alguns minutos para que a "poeira" de seus pensamentos e suas ações se assente um pouco. Inspire paz, tranqüilidade, harmonia, segurança... expire, insegurança, angustia, duvida, medo, tensão...

 2º PASSO. Através de um canto, um mantra ou uma oração, peça as luzes do Espírito Santo para esse tempo de oração. Sem a força e o auxilio do Espírito Santo de Deus, nosso esforço será inútil.

 3º PASSO. Leia atentamente o texto imaginando-se estar presente entre os apóstolos. Ouça atentamente o que Jesus esta falando. Ele se compadece das multidões cansadas e abatidas, que sofrem todos os tipos de problemas e exclusões. Ter compaixão de alguém significa sentir suas dores e sofrimentos. Para ajudar essas multidões, Jesus chama e envia 12 Apóstolos com algumas recomendações: curar os doentes, ressuscitar mortos, purificar leprosos e expulsar demônios. O que isso significa para a comunidade de Mateus quando o Ele escreveu o Evangelho?

1 Situando o texto dentro do contexto. Na época em que Mateus escreve o Evangelho, as comunidades cristãs, quarenta e sete anos após a morte e ressurreição de Jesus, passavam por momentos difíceis: problemas internos, conflitos com as lideranças do judaísmo e a perseguição do Império romano. O ardor missionário andava desmotivado. Em resposta a essa situação, Mateus escreve o discurso sobre a missão. Primeiramente faz uma introdução (cf. 9,36-38) mostrando que Jesus, se compadece das multidões cansadas e abatidas, que estavam sofrendo todos os tipos de problemas e exclusões. Ninguém se preocupava com o povo, o qual se encontrava em situação desesperadora. Parece um rebanho sem pastor, expressão conhecida no Primeiro Testamento (cf. Jr 23; Ez 34).

A compaixão revela o lado maternal de Jesus e resume sua missão. Na Bíblia, a compaixão (rahamin) significa um amor uterino (réhem quer dizer útero) isto é, uma forma de amar maternal: como uma mãe olha e ama uma criancinha que esta no seu útero. Ter compaixão de alguém significa sentir suas dores e sofrimentos. 

Na tradição budista, há um sermão de Buda sobre a compaixão, no qual ele aconselha os fiéis a olharem toda pessoa humana como uma mãe olha e considera o seu filho único. O atual Dalai Lama gosta de citar e comentar esse discurso da compaixão que, nessa acepção, não significa nenhum olhar de superioridade sobre um coitadinho que merece piedade, mas quer dizer a solidariedade de quem assume o destino de sofrer juntos para juntos se libertar.

Na segunda parte do discurso (cf 10,1-8) destaca-se a necessidade de muitos “operários” para a obra evangelizadora. Jesus chama os que o acompanham mais de perto e compartilham as suas preocupações (10,1-4). No começo eram quatro (4,18-22). Agora, são doze, isto é, um grupo completo que resume o povo de Israel, como os 12 patriarcas. O número doze é símbolo da totalidade. Todos são convidados a libertar-se e enviados a tra­balhar em favor da justiça que liberta das diferentes formas de opressão. Os doze discípulos, como figura representativa das doze tribos do antigo Israel e começo do novo povo de Deus, acenam para a comum co-responsabilidade no anúncio e na realização do Reino de Deus. O termo apóstolo quer dizer enviado. Na época, era comum grupos e instituições judaicas terem missionários.

Ainda a respeito destes enviados do Senhor, Mateus, é tão fiél à cultura judaica que não conta que Jesus também chamou um grupo de mulheres. Lucas conta isso e utiliza o mesmo verbo que Mateus usou para designar os apóstolos (cf. Lc 8,lss.). Mateus não faz distin­ção entre discípulos e apóstolos. Para Mateus a comunidade de Jesus se restringe praticamente aos doze.

Jesus expõe a situação aos discípulos: "A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos". A urgência da missão eviden­cia-se pela imagem "a colheita é grande". Urge maior número de colaboradores. É preciso insistir junto ao "Senhor da messe" que envie muitos operários. Jesus não pede ao Pai que envie ceifadores, mas recomenda aos discípulos: "Peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita". A iniciativa da missão é do Pai. Agindo dessa forma, o Mestre, como bom pedagogo, prepara e co-responsabiliza os discípulos para a mis­são. Diferentemente dos líderes políticos e sociais, os discípulos devem ser solidários com os sofrimentos do povo.

Historicamente, este texto do Evangelho de Mateus pode aludir ao despovoamento dos campos da Galiléia ou do sul da Síria (ou dos dois lugares) após as guerras. As palavras de Jesus se inspiram numa realidade de desolação e de abandono, para pedir trabalhadores para a colheita do Reino. Na cultura judaica, há uma sentença de um rabino que diz: “O dia é curto, o trabalho abundante, os trabalhadores preguiçosos, mas a recompensa é grande, pois o dono da casa tem urgência”.

A prática da justiça traduzida em gestos concretos a serviço do povo, na liderança ou no exercício de atividades promotoras de vida, requer a colaboração de muitas pessoas. O fato de Jesus comparar a atividade missionária a uma grande colheita reflete que está havendo uma caminhada, já colhendo resultados positi­vos. Contudo, isso não deve acomodar ninguém. A colheita pode ser ainda maior, se contar com mais colaboradores. A missão evangelizadora nasce da percepção do e da solidariedade para com o povo abandonado, amparada pela esperança de que o empenho de muitos colaboradores em favor da justiça produzirá abundantes frutos de vida para todos.

A primeira coisa é que Ele lhes dá poder sobre os espíritos maus, para expulsá-los e para curar toda enfermidade, ressuscitar os mortos e purificar os leprosos. "Vocês receberam de graça, dêem de graça!"

Hoje, se fala muito em energia positiva e negativa. No judaísmo da época de Jesus, a crença em "espíritos maus" era influência da religião persa e mesopotâmica. Hoje, no meio do povo brasileiro, há influências de culturas religiosas indígenas e afro­brasileiras. Jesus respeitou e assumiu a linguagem e as crenças do seu povo, mesmo as estranhas ao pensamento original da Bíblia.

Jesus aponta aos doze a prioridade da missão: "Não tomem o caminho dos pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos! Vão antes às ovelhas perdidas da casa de Israe1!". Para o Mestre, a urgência é ir ao encontro e colocar-se a serviço daqueles de quem a dignidade e a liberdade foram roubadas e que se encontram subjugados aos mecanismos da escravidão e da morte.

Jesus também revela o conteúdo do anúncio missionário: "Vão e anunciem: o Reino do Céu está próximo". A presença do Reino revela-se por meio de relações reconciliadas: de fra­ternidade, de paz e de gratuidade. Seu anúncio igualmente deve acontecer por intermédio de relações que assinalem sua presença e gerem um novo estilo de vida. Enfim, os doze são enviados para fazerem o mesmo que Jesus fez: "Curar os doentes, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos e expulsar os demônios". A missão dos discípulos consiste em gerar um novo povo, libertando as pessoas de tudo o que as oprime, conforme o projeto de Deus.

4º PASSO. Agora é o momento de atualizar o que se leu.  É hora de responder a pergunta: O que diz o texto para mim, para nós? O que esse texto tem de semelhante e de diferente com a nossa vida? O que diria Jesus ao contemplar a realidade de hoje? Quem ele chamaria? Como atualizar as mesmas recomendações? Para ajudar a responder leia Ex 19,2-6a. Qual conclusão que você tira?

Esta boa nova realça a importância da missão da Igreja, povo sacerdotal, povo da aliança. Amplo é o panora­ma da missão evangelizadora. A compaixão de Jesus pelo povo abandonado, como "ovelhas sem pastor", faz pensar na ação evangelizadora das populações das grandes cidades, dos bairros e das periferias, sem contar aquelas distantes, que se multipli­cam por toda parte, nos campos, nas florestas, nas margens dos rios e nos assentamentos. Como anunciar a Boa-Nova do Reino nas violentas periferias de certas cidades que acolhem milhares de pessoas todos os dias? Em meio a essa realidade, a Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão. Ela não pode fechar-se diante daqueles que só vêem confusão, perigos e ameaças (cf. Documento de Aparecida, 11).

Jesus sente compaixão pelas multidões porque ninguém se preocupa com elas nem os políticos, nem os dirigentes religio­sos. Todos se preocupam com seus interesses e com o próprio status. Assim, as grandes massas de pobres desafiam a Igreja e a consciência cristã.

Este texto de Mateus é, antes de tudo, uma palavra de esperança e uma garantia do amor e da compaixão de Deus para cada um de nós, membros de seu povo. Em Jesus, o Bom Pastor, Deus solidariza-se com as pessoas que mais sofrem. Por meio de seu Filho, o Pai continua o projeto da aliança com os pobres da terra. Jesus emoldura a missão evangelizadora com a atitude de compaixão pelo povo abandonado, para avisar que a missão, mais do que uma simples transmissão dos conteúdos da fé, constitui-se em presença solidária do discípulo e missionário no meio do povo. Seu testemunho e sua convivência sensível e tema com os desprotegidos são mais eloqüentes do que muitas palavras.

A tarefa evangelizadora para a Igreja não é tanto de pre­gar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores, mas de chegar a atingir e transformar, pela força do Evangelho, os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e o modelo de vida da humanidade. É preciso evangelizar, não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade, até as raízes - a cultura e as culturas humanas - a partir sempre da pessoa e fazendo continuamente apelo para as relações das pessoas entre si e com Deus.

Jesus sabe que, no mundo, sempre haverá ovelhas sem pastor e, por isso, deseja que na terra haja pastores para guiar suas ovelhas - o seu povo. Os pastores são, sobretudo, os sacerdotes. Estes são muito poucos em relação à população. Mas "em rela­ção à missão, o Concílio Vaticano II entende que toda a Igreja é missionária e a obra da evangelização é um dever fundamental do povo de Deus" (cf. CNBB, Missão e Ministérios dos leigos e leigas, doc. 62, n. 47). A partir da missão de Jesus, entende-se a missão da Igreja no mundo, isto é, a nossa missão, a de todos os cristãos. A cada seguidor de Cristo foi confiada uma tarefa no campo do mundo. Seja qual for a situação em que se encontram, todos os cristãos têm esta missão a cumprir: dedicar a própria vida para a libertação dos irmãos, enchendo-os de esperança e de motivação na caminhada em busca de vida digna e plena.

Os cristãos são convidados a "revelar a Boa-Nova" do Mestre, sendo portadores de boas novas de esperança para a sociedade e não profetas de desventuras.

Hoje estamos assistindo ao fenômeno pelo qual a pregação do Evangelho transforma-se em negócio lucrativo. Pelo exemplo de Jesus, evidencia-se que a evangelização não é proselitismo sectário, nem propaganda de mercadoria, nem oferta interesseira de uma tecnologia, mas anúncio da Boa-Nova que suscita uma nova sociedade, marcada por relações de justiça, de fraternidade e de paz.

O seguidor de Cristo não trabalha em prol dos semelhantes em vista de vantagens pessoais, seja para se tomar conhecido e estimado, seja para se enriquecer com seus serviços religiosos, como faziam os rabinos. Como o Mestre, o cristão desenvolve seu trabalho evangelizador de forma gratuita. Sua recompensa é a alegria de ter servido e amado os irmãos com a mesma generosidade que ele aprendeu de Jesus. "Vocês receberam de graça, dêem de graça!". Essa advertência, com a qual Jesus conclui o texto de hoje, é, ao mesmo tempo, uma garantia da fidelidade a Jesus e de autenticidade dos evangelizadores.

A gratuidade e a alegria do discípulo são o antídoto em face do mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem estar egoísta, mas uma certeza que brota da confiança (fé) que tranqüiliza o coração e potencializa para o anúncio da Boa-Nova do amor de Deus.

"Oxalá o mundo atual- que procura às vezes com angústia, às vezes com esperança - possa assim receber a Boa-Nova, não através de evangelizadores tristes e desalentados, impacientes ou ansiosos, mas através de ministros do Evangelho, cuja vida irradia o fervor de quem recebeu, antes de tudo em si mesmo, a alegria de Cristo e aceita consagrar sua vida à tarefa de anunciar o Reino de Deus e de implantar a Igreja no mundo" (Documento de Aparecida, 552).

 5º PASSO. Agora é o momento de nos colocar em comunhão íntima com Deus, através da oração e expressar nossos sentimentos, angústias, apreensões, alegrias e sonhos que por ventura surgiram durante os passos anteriores. Não se preocupe em falar muito e em preparar palavras bonitas, que fórmula usar. Fale com espontaneidade, simplicidade e naturalidade e conte a Deus Pai tudo o que o seu coração sente no momento.

6° PASSO. Agora é o momento de contemplar, ou seja, de se ter uma “conversa tranqüila com Deus", sem outro desejo a não ser o de permanecer ao seu lado. Olhar e sentir-se olhado por Ele, num sentimento de adoração, escuta e silêncio. Fala-se apenas com os olhos e com o coração. Outra característica da contemplação é que, dentro do método da leitura orante, ela é ativa, exige conversão, tomada de posição. Quando, através do texto, lido, meditado e rezado, experimentamos o amor de Deus, algo acontece conosco. Mudamos. Não podemos mais ficar na mesma. Esse é o desafio, realizar aqui e agora o Reino de Deus.

 7º PASSO. O Método da Leitura Orante da Bíblia é como um mapa: indica o caminho, mostra o que Deus quer de nós. O mesmo Deus que estava presente no texto lido, meditado, orado e contemplado e que respondia ao grito desesperador dos discípulos, está e estará sempre presente na nossa vida, falando conosco a partir de nossa realidade e esperando uma tomada de posição da nossa parte, pois sua fala é sempre um apelo a um compromisso pessoal e comunitário com a vida, com os outros, com a transformação da história. Nós somos convidados a tomar uma posição, assumir um compromisso concreto.

 8º PASSO. Agora reze o Sl 99.

 9º PASSO. Na oração, há a necessidade de se despedir, de encerrar não com um ADEUS, mas com um, ATÉ LOGO desejoso de um novo encontro, pois, assim como a amizade arrefece se não há momentos de encontro e intimidade, do mesmo modo a fé se debilita se não nos recolhemos em oração. A oração poderá ser encerrada com um Pai Nosso ou um canto de sua preferência.

10º PASSO. Não basta ler, meditar, orar e contemplar a Palavra de Deus. É preciso produzir no cotidiano na realidade concreta do dia-a-dia, em casa e na rua, frutos como paz, sorriso, decisão, caridade, entrega, seguimento, serenidade, compreensão, bondade, e... semeada no seu coração. Viva, pois na presença de Deus.