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44 - Aprofundamento de Ex 17,8-13a
44 - Aprofundamento de Ex 17,8-13a

Situando o texto  Ex 17,8-13a: Javé está em guerra

 

No antigo Oriente Médio, a guerra era guerra de deuses. As guerras de conquista aconteciam em nome dos deuses de cada povo. A Bíblia relata várias guerras do povo de Israel sob a guia e a proteção de Javé: “Fizeram a guerra contra Madiã, conforme Javé ordenara a Moisés, e mataram todos os varões. Mataram ainda os reis de Madiã, Evi, Recém, Sur, Hur e Rebe, cinco reis madianitas; também passaram ao fio da espada Balaão, filho de Bôer. Os israelitas levaram cativas as mulheres dos madianitas com as suas crianças, e tomaram todo o seu gado, todos os seus rebanhos e todos os seus bens. Queimaram as cidades em que habitavam, bem como todos os seus acampamentos” (Nm 31,7-10).

 

Na tomada de Jerico, primeira cidade conquistada em Canaã, Javé tinha feito desmoronar a muralha da cidade, e o seu exército aniquilou todos os habitantes da cidade: “O povo lançou o grito de guerra e tocaram as trombetas. Quando o povo ouviu o som da trombeta, lançou um grande grito de guerra e a muralha ruiu por terra, e o povo subiu à cidade, cada qual no lugar à sua frente, e se apossaram da cidade, então consagraram como anátema tudo que havia na cidade: homens c mulheres, crianças e velhos, assim tomo os bois, ovelhas e jumentos., passando-os ao fio da espada" (Js 6,20-21).

 

A guerra era de conquista, cujas consequências eram destruição da cidade, massacres, saques, prisioneiros... A população inteira podia ser exterminada ou escravizada. A guerra traz a marca da crueldade e da morte. O que pensar disso? Os fundamentalistas dão a sua resposta: Deus castiga e destrói os inimigos de Israel, o povo eleito. A Bíblia falou tá falado... Ao longo da história, a Bíblia foi usada pelos “cristãos” para castigar os inimigos da fé cristã. É vontade de Deus? Com certeza, não. Por que a Bíblia escreve a barbárie de guerra sob a ordem de Javé?

 

Os estudos recentes nos fornecem algumas informações importantes sobre as guerras de Javé:

 

1)            A redação dos livros do Pentateuco (Gn, Ex, Lv, Nm e Dt) e a redação final dos livros da "história deuteronomista” (Js, Jz, 1Sm, 2Sm, 1Rs e 2Rs) aconteceram essencialmente no tempo exílico e pós-exílico. Em 587 a.C., os babilônios invadiram e saquearam a cidade de Jerusalém, incendiaram o Templo e ainda deportaram uma parte da população para a Babilônia. No exílio, para garantir a identidade do povo judeu no meio dos estrangeiros, nasce a ideia de povo puro e eleito: "Assim diz o Senhor Javé: ‘Eis que tomarei os israelitas dentre as nações, para as quais foram levados (...) e os purificarei, para que sejam o meu povo e eu seja o seu Deus'” (Ez 37,21.23).

 

2)            No pós-exílio, especialmente no tempo de Neemias e Esdras (450-350 a.C.), consolidou-se a compreensão de que o povo de Israel era o único povo santo, escolhido por Deus. Essa visão nacionalista excluía os estrangeiros como grupos impuros e condenados por Javé: “Purifiquei-os de todo elemento estrangeiro” (Ne 13,30).

 

3)            Consolida-se a ideia de Javé como o único Deus: “Javé é o único Deus, tanto no alto do céu como cá embaixo, na terra. Não existe outro!” (Dt 4,39). O Templo de Jerusalém, que era considerado a única morada de Javé, tornou-se o centro da vida religiosa e política do povo judeu. E o que chamamos de Teocracia. Nesse período, a história de Israel foi reescrita a partir de uma visão nacionalista e excludente.

 

4)            Nessa história, Israel, descrito como um grupo nascido na caminhada dos patriarcas, do acontecimento do êxodo e da caminhada pelo deserto sob a orientação de Javé, é um povo distinto dos moradores da terra de Canaã. Israel qualificava os outros povos como “estrangeiros”, “ímpios” e “idólatras”. Os seus deuses e suas adorações eram considerados como afronta e ataque contra Javé. Por isso, os estrangeiros deveriam ser aniquilados com a crueldade da guerra santa de Javé.

 

Na redação final, os relatos das guerras contra outros povos podem ter adquirido uma carga maior de violência e brutalidade devido à experiência de Judá nas guerras e invasões dos assírios (701 a.C.) e dos babilônios (597 e 587 a.C., cf. 2Rs 25,8-9). Os sentimentos de vingança se encontram nos oráculos contra as nações, redigidos no tempo exílico e pós-exílico: ‘“Caiam sobre a Babilônia a violência e as feridas que eu sofri!’, diz o habitante de Sião. ‘Caia sobre os habitantes da Caldeia o meu sangue!’, diz Jerusalém. Por isso, assim disse Javé: ‘Eis que eu pleitearei a tua causa e me encarregarei da tua vingança”’ (Jr 51,35-36).

 

Na mentalidade do grupo que escreve, é Deus que se encarrega de submeter as nações estrangeiras e de aniquilar seus moradores. É a ação de Deus, todo-poderoso e vingador, contra os inimigos do povo judeu, convicção que 4eve ser propagada por toda a terra. Essa visão teológica encontra-se expressa no aniquilamento do povo amalecita em Ex 17,8-16.

 

Comentando o texto: Ex 17,8-16 - A bandeira de Javé em mãos!

 

A Bíblia descreve os amalecitas como descendentes de Esaú (cf. Gn 36,12.16). São grupos nômades que vivem no deserto do Sinai. Os conflitos com os amalecitas são registrados em vários textos bíblicos (cf. 1Sm 15; 27,8; 30,1-2). Uma das causas de constantes conflitos com os povos vizinhos é a escassez de pasto e de água, imprescindíveis para a sobrevivência.

 

A última redação dos textos, que narram a inimizade entre Israel e Amalec, aconteceu no tempo exílico e pós-exílico, a partir da ótica de Javé como o Deus único, e de Israel como o povo eleito. Os povos como o de Amalec, adoradores de outros deuses, eram, por certo, considerados idólatras e deviam ser exterminados: “Lembra-te do que Amalec te fez no caminho, quando saíste do Egito: ele veio ao teu encontro no caminho, quando estavas cansado e extenuado, e pela tua retaguarda, sem temer a Deus, atacou a todos os desfalecidos que iam atrás. Quando Javé teu Deus te der sossego de todos os inimigos que te cercam, na terra que Javé teu Deus te dará para que a possuas como herança, deverás apagar a memória de Amalec de sob o céu. Não te esqueças! ” (Dt 25,17-19).

 

Como Dt 25,17-19, o relato da guerra santa em Ex 17,8-16 vale para a época pós-exílica. O objetivo do relato é provar que Deus está com Israel, o povo eleito, aniquilando seus inimigos idólatras. Rafidim é o local onde os israelitas questionaram a Moisés se Deus estava ou não com eles (17,1-7).

 

Nesse relato, Josué é introduzido sem nenhuma preparação, como se o leitor já o conhecesse. Ele é o encarregado militar: é ele que faz a seleção dos guerreiros e comanda a batalha (w. 9.10.14). Na conquista da terra, Josué lidera os israelitas pelo rio Jordão (Js 1-5) e também na guerra contra as cidades-estados de Canaã (Js 6-12). A sua aparição repentina e ocasional no Pentateuco é por causa de sua associação com a conquista. A presença de Josué na guerra santa reforça a visão de salvação presente nessa narrativa, relacionando o Êxodo à conquista da terra.

 

Eis como Josué é apresentado no Pentateuco: ele acompanha Moisés para receber a revelação da Lei sobre a montanha de Deus (24,13). Ele desce da montanha com Moisés depois da construção do bezerro de ouro, evidenciando que está livre do pecado da idolatria (32,17-33,11). E mais: em Números, Josué é retratado como líder carismático. Ele é o auxiliar de Moisés quando os setenta anciãos recebem uma porção do espírito de Moisés e o próprio Josué também recebe o espírito (Nm 11,28; 27,18.22). Ele é o líder da conquista e o sucessor de Moisés (Dt 1,38; 3,21.28; 31,23). Dessa forma, Josué exerce a função de ligar o acontecimento do Êxodo às guerras de conquista de Israel.

 

Mas, em Ex 17,8-16, o papel principal não está com Josué, e sim com Moisés e a sua vara de Deus. Moisés assume um novo papel: a missão de conduzir os israelitas na guerra santa. Ele ainda possui a habilidade de escrever: "Então Javé disse a Moisés: ‘Escreve isso para memorial num livro, e declara a Josué que hei de extinguir a memória de Amalec de debaixo do céu” (v. 14).

 

Dois elementos novos surgem nesse texto: a vara de Javé e o livro de memórias. A perspectiva da vitória não depende das proezas militares, mas da adoração a Deus, que dirige o povo em sua caminhada. O poder para empreender guerra não depende de Moisés, nem de Josué ou dos guerreiros israelitas, mas do poder mágico da vara de Javé. A vitória está garantida quando Aarão e Hur ajudam Moisés, providenciando uma forma de seus braços ficarem em posição de adoração. Transparece, aqui, a importância do culto a Javé, o único Deus, no tempo pós-exílio.

 

Israel aniquilou o povo de Amalec: “Josué pôs em fuga Amalec e seu povo ao fio da espada” (v. 13). A crueldade da guerra é santificada pelo caráter religioso da guerra santa de Javé contra os povos estrangeiros, que combatem em nome de seus deuses. A adoração a outros deuses é considerada como rebeldia contra Javé, e os idólatras devem ser exterminados. É a lei do anátema, cuja função é a purificação cultural e religiosa no tempo pós-exílico. Essa lei deve ser escrita no “livro de memórias”: o Pentateuco. Segundo o redator, Moisés deveria ser o autor do Pentateuco por ordem de Javé. No essencial, essa teologia pertence ao estágio recente da formação do Pentateuco, ou seja, à redação pós-exílica.

 

A narrativa conclui com Moisés construindo um altar para Javé atribuindo-lhe um nome: '“Javé-Nissi’, porque ele disse: ‘A bandeira de Javé em mãos! Javé está em guerra contra Amalec de geração em geração’” (v. 15b-16). O objetivo não é a construção do altar, mas o nome. Os relatos etiológicos - cuja função é relacionar o nome de um local a um acontecimento - ocupam papel de destaque na história da caminhada no deserto. A narrativa já apresentou a origem do nome do maná, de Massa e de Meriba, e agora da guerra contra os amalecitas (cf. 16,15; 17,1-7; 17,15-16).

 

O nome “A bandeira de Javé em mãos!” indica que ele é guerreiro e salvador na guerra contra os amalecitas. Pois eles são acusados de não temer ao único Deus, por isso é necessária a sua destruição enquanto povo, para não prejudicar Israel. A vitória sobre Amalec comprova a presença de Javé no meio dos israelitas. Um Deus que está em guerra, lutando junto com o seu povo eleito (14,14).

 

Lendo e analisando o estilo, o vocabulário e o pensamento de Ex 17,8-16, percebe-se que se trata de um texto redigido por volta do ano 400 a.C., durante o período em que a comunidade judaica era organizada pelos teocratas em torno do Templo de Jerusalém. Foi nessa época que aconteceu a última redação do Pentateuco sob a teologia de Javé oficial, o Deus único, e do povo eleito Israel. Quem não adere a essa teologia oficial será condenado como infiel, impuro e malvado, castigado e aniquilado. Na tentativa de entender a redação do livro do Êxodo e sua teologia, vamos conhecer um pouco da realidade do Templo com a leitura de alguns textos.

 

Aprofundando: A teocracia e o seu relato do Êxodo

 

Em 539 a.C., Ciro, o rei da Pérsia, derrotou a Babilônia, tornando-se o rei de todo o Oriente Próximo. O império persa conseguiu subjugar mais de 80 povos. Uma das estratégias políticas dos persas era dar liberdade religiosa aos povos dominados; assim, na Judeia, a Pérsia ajudou a restaurar o Templo de Jerusalém, colocando-o a serviço de seus interesses políticos e econômicos. Os persas não interferiam nos ritos religiosos, mas fiscalizavam o funcionamento do Templo, onde os judeus ofereciam sacrifícios e pagavam seus dízimos.

 

Por volta do ano 460 a.C., surge uma revolta no Egito. Alguns anos mais tarde, o governador da satrapia deTranseufrates, província da qual Judá faz parte, também se rebela contra o poder central do império persa. Nesse contexto de grande instabilidade, entre 445 e 432 a.C., o império persa, de olho no corredor Sírio-Palestina, envia Neemias, e Esdras para reorganizar e fortalecer Judá. A cidade de Jerusalém e o Templo se tornam o centro do poder político e econômico. Consolidou-se a sociedade teocrata em Judá.

 

O sistema do Templo e a teologia do puro e impuro são reforçados. A pessoa impura fica impedida de participar da vida comunitária e do culto no Templo, a morada exclusiva de Javé, o Deus único. Só havia uma forma de voltar a participar da sociedade e do Templo: o sacrifício de purificação, que inclui a entrega de ofertas para os sacerdotes do Templo (cf. Lv 11-15). Assim, o Templo e a lei se tomam os principais mecanismos de arrecadação de tributos para a manutenção da teocracia de Jerusalém, que repassa uma parte da arrecadação ao império persa.

 

No processo de instituição e consolidação da teocracia e sua teologia, acontece a última redação do livro do Êxodo. Essa releitura pós-exílica foi a principal responsável por dar ao livro do Êxodo os contornos de uma imagem de Deus poderoso e de seu grandioso Templo. Eis alguns textos da releitura:

 

1)            A contribuição para o santuário:

 

“Javé falou a Moisés, dizendo: ‘Dize aos israelitas que me tragam uma contribuição. Tomareis a contribuição de todo homem cujo coração o mover a isso. Eis a contribuição que recebereis deles: ouro, prata e bronze; púrpura violeta e escarlate, carmesim, linho fino e pelos de cabra; peles de carneiro tingidas de vermelho, couro fino, e madeira de acácia; azeite para a lâmpada, aromas para o óleo de unção e para o incenso aromático; pedras de comalina, e pedras de engaste, para o efod e para o peitoral. Faze-me um santuário, para que eu possa habitar no meio deles’” (25,1-8).

 

Os caps. 25-27 oferecem uma imagem esplêndida do santuário no tempo pós-exílico com uma organização desenvolvida segundo o modelo dos templos babilônicos. Por exemplo, o espaço do átrio, que congrega o povo ao redor do santuário, é equivalente ao Templo de Jerusalém (cf. Ez 40). Na teocracia, os dízimos, as ofertas, os primogênitos e as primícias, transformados em tributo obrigatório, são entregues ao Templo, a única morada de Deus.

 

2)            O peitoral do sumo sacerdote:

 

“Farás para Aarão, teu irmão, vestimentas sagradas para esplendor e ornamento. Dirás a todas as pessoas hábeis, a quem enchi de espírito de sabedoria, que façam vestimentas para Aarão, para consagrá-lo ao exercício do meu sacerdócio. Eis as vestimentas que farão: um peitoral, um efod, um manto, uma túnica bordada, um turbante e um cinto” (28,2-4).

 

O cap. 28 descreve as vestimentas sagradas do sumo sacerdote na época pós-exílica. Na teologia da teocracia, Deus deveria reinar diretamente sobre a comunidade judaica. O sumo sacerdote não era apenas o chefe do culto, mas também o encarregado de administrar a comunidade judaica nas decisões políticas e sociais. A sua autoridade no lugar do rei Javé era argumentada e sustentada pelas vestimentas, que têm função de produzir o espaço sagrado, separando-o do profano. O peitoral, por exemplo, contém as sortes sagradas: o Urim e Tummim (cf. Lv 8,7-8).

 

3)            O temor de Deus:

 

Moisés viu que o povo estava desenfreado, porque Aarão os havia abandonado à vergonha no meio dos seus inimigos. Moisés ficou de pé no meio do acampamento e exclamou: “Quem for de Javé venha até mim!”. Todos os filhos de Levi reuniram-se em tomo dele. Ele lhes disse: “Assim fala Javé, o Deus de Israel: ‘Cingi, cada um de vós, a espada sobre o lado, passai e tomai a passar pelo acampamento, de porta em porta, e matai, cada qual, a seu irmão, a seu amigo, a seu parente’”. Os filhos de Levi fizeram segundo a palavra de Moisés, e naquele dia morreram do povo uns três mil homens. Moisés então disse: “Hoje recebestes a investidura para Javé, cada qual contra o seu filho e o seu irmão, para que ele vos conceda hoje a benção” (32,25-29).

 

O texto apresenta o zelo dos levitas teocratas que executam a sentença de Javé contra os idólatras. No período pós-exílico, o monoteísmo de Javé consolida-se na teocracia de Judá, e a idolatria deve ser combatida e punida. O castigo atinge a todos, e a execução chega até os familiares infiéis a Javé. A lei religiosa está acima dos vínculos familiares e até mesmo do valor da vida.

 

Como podemos perceber, a presença de um Deus único, poderoso, ciumento e vingativo é força que mantém a teocracia. Não pode existir outro Deus que se oponha ao Deus oficial. A idolatria é considerada como a rebeldia contra Javé oficial e uma ameaça que pode desestruturar a sociedade baseada na aliança entre o povo eleito e Deus. A ordem do dia é manter-se fiel e puro diante de Deus. Ele abençoa a pessoa fiel com riqueza, vida longa e descendência. Mas não seguir as leis de Deus provoca castigo, desgraça, sofrimento e morte.

 

Sem dúvida, o massacre dos idólatras com a guerra santa é assustador: “Javé teu Deus a entregará em tua mão, e passará todos os seus homens ao fio da espada. Quanto às mulheres, crianças, animais e tudo o que houver na cidade, todos os seus despojos, tu os tomarás como presa” (Dt 20,13-14). Deus está com o povo eleito, combate ao seu lado e lhe garante a vitória. Para a teologia pós-exílica dos teocratas, o aniquilamento dos povos estrangeiros serve como apelo para uma purificação sociocultural e religiosa.

 

Ainda hoje se recorre a teologias oficiais, como essa da teocracia judaica do pós-exílio, que também estão presentes em textos sagrados e doutrinas de outros povos, para esconder interesses econômicos e políticos, ou apresentá-los como vontade de Deus. O nome de Deus continua sendo usado para justificar e legitimar atos de violência e até mesmo guerras contra povos e culturas que adoram divindades diferentes ou que cultuam as divindades de modo diferente.

 

Exemplos disso são o apoio cristão e judaico às intervenções e ao bombardeio de diversos países muçulmanos pelos Estados Unidos, o apoio religioso e espiritual à violência, à discriminação e ao desejo de extermínio existentes nas relações entre Israel e os palestinos, nos conflitos intertribais na África, ou entre hindus e cristãos na índia e tantos outros pelo mundo afora.

 

Essa mesma espiritualidade está presente nos grupos que, em nome de Jesus, demonizam divindades africanas e indígenas e atacam centros de umbanda, candomblé e espiritismo. Ou ainda financiam e se esforçam para a conversão dos povos indígenas e povos de outras culturas, desejando que estes abandonem seus milenares modos de vida e assumam a cultura ocidental, branca e cristã.

 

No entanto, a comunidade joanina, através de Jesus, em Jo 8,39-44, nos adverte de que o diabo, o demônio, não está na pessoa ou no povo que vive, fala e cultua a Deus de forma diferente. Mas o demônio está, sim, naquela pessoa ou grupo que quer destruir a cultura de outra pessoa ou de um povo e matá-lo, só porque é diferente, pois o diabo “foi homicida desde o princípio”.